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quarta-feira, 19 de maio de 2010
'Olhe para o seu coração. Siga a sua natureza'
"Esta é uma das mais belas declarações: 'Olhe para o seu coração.
Siga a sua natureza'.
Buda não está dizendo, siga as escrituras.
Ele não está dizendo, siga-me.
Ele não está dizendo, siga certas regras de conduta.
Ele não está ensinando a você qualquer moralidade.
Ele não está tentando criar um certo caráter em você, porque todo caráter é uma bela cela de uma prisão.
Ele não está dando a você um certo caminho para viver.
Ao invés disso, ele está lhe dando coragem para seguir a sua própria natureza.
Ele quer que você seja corajoso o bastante para ouvir o seu próprio coração e seguir, de acordo com ele.
'Siga a sua natureza' quer dizer: flua com você mesmo.
Você é a escritura... e escondido lá no fundo de você ainda está uma pequena voz.
Se você se tornar silencioso, você será guiado por ela.
O Mestre tem apenas que tornar você consciente de seu Mestre interior.
Aí a sua função estará completa.
Aí ele poderá deixar você consigo mesmo, ele poderá mandar você de volta para você mesmo.
A proposta de um Mestre não é escravizar um discípulo, a proposta de um Mestre é libertá-lo, é lhe dar total liberdade.
E essa é a única possibilidade de se atingir a liberdade total: 'Siga a sua natureza'.
Por 'natureza', Buda quer dizer Dhamma.
Assim como é da natureza da água fluir para baixo e é da natureza do fogo se expandir para o alto, assim existe uma certa natureza escondida dentro de você.
Se todos os condicionamentos que foram impostos a você pela sociedade forem removidos, de repente você irá descobrir a sua natureza.
A sua natureza é tornar-se Deus.
Ais Dhammo sanantano - essa é a lei eterna e inesgotável: sua natureza é tornar-se Deus.
O homem é um Deus em potencial, um bodhisattva.
O significado do homem é tornar-se Deus.
Menos do que isso não irá satisfazer você, menos do que isso não terá utilidade.
Você pode ter todo o dinheiro do mundo, todo o poder, todo o prestígio possível, e ainda assim você permanecerá vazio.
A não ser que a sua natureza divina floresça, abra os seus botões, a não ser que você se torne um lótus, mil pétalas de lótus, a não ser que a sua divindade seja revelada a você, você nunca estará satisfeito.
Ao homem religioso comum é dito para que permaneça satisfeito e contente, em qualquer que seja a situação.
Os chamados santos religiosos seguem ensinando às pessoas: 'fique satisfeito'.
A satisfação é um de seus ensinamentos fundamentais.
Esse não é o caminho dos verdadeiros Mestres.
O Mestre verdadeiro cria o descontentamento em você, um tal descontentamento que nada neste mundo poderá satisfazê-lo.
Ele cria um tal anseio em você, que a não ser que você alcance o máximo, você irá permanecer sem fogo, sem chama.
Ele cria dor em seu coração, ele cria angústia...porque a vida está escorregando a todo momento, e cada momento que se foi, se foi para sempre, e você ainda não alcançou Deus e mais um dia já se passou.
Ele cria um tal anseio profundo em você, uma tal dor em seu coração!
Ele cria lágrimas em seus olhos, porque somente através desse divino descontentamento, você irá se mover, você dará o salto quântico, o salto maior em direção ao desconhecido.
Somente através desse divino descontentamento é que você reunirá todas as suas energias e se arriscará, indo até a aventura maior que é descobrir quem você é. Siga a sua própria natureza.
A sua natureza é a consciência.
Mas os padres disseram a você: siga certas regras de conduta, os Dez Mandamentos, siga certos princípios, não a sua natureza.
Os padres têm muito medo da sua natureza, porque se você seguir a sua natureza você irá sair de seu controle, você não será mais um escravo.
Você não irá mais às igrejas, aos templos e aos mosteiros, e você não irá mais ouvir seus estúpidos padres, políticos, os chamados líderes.
Eu digo que eles são os 'chamados líderes' porque o que na verdade está acontecendo é que pessoas cegas estão guiando pessoas cegas.
Se você ouvir à sua própria natureza, você não irá ouvi-los mais.
Se você conhecer a sua própria voz interior, você se tornará livre.
Então, a sua voz interior tem que ser esmagada, destruída, completamente destruída, ou pelo menos distorcida de tal maneira que mesmo se você ouvi-la, você não poderá entendê-la.
E eles têm sido bem sucedidos.
A não ser que você lute arduamente contra eles, não haverá possibilidade de sucesso.
A exploração deles é tão velha, a opressão deles é tão antiga, as estratégias deles são tão espertas... e eles têm um poder infinito em suas mãos. E quem é você individualmente contra eles?
Mas se você for para dentro, se você ouvir o seu coração, você irá alcançar um tal poder que nenhum poder na Terra poderá escravizá-lo de novo.
Siga a sua natureza.
Mas como seguir a sua natureza, se você não sabe o que ela é?
E não lhe é permitido saber o que ela é!
Você recebeu instruções precisas sobre o que fazer: o que comer, quando levantar-se de manhã, quando ir para a cama...
Você recebeu instruções precisas.
Aquelas instruções, se seguidas, fazem de você um escravo.
Se não seguidas, fazem de você um criminoso.
Se seguidas, você se torna um santo, mas um escravo.
As pessoas irão adorá-lo, respeitá-lo, mas todo esse respeito é um entendimento mútuo: 'Se você seguir as nossas instruções, nós respeitaremos você.
Se você não seguir, você irá para a prisão.'
Ou você se tornará espiritualmente um escravo ou fisicamente um prisioneiro: essas são as duas alternativas que a sociedade dá a você.
E isso nunca permite a você se tornar consciente de que existe dentro de você uma fonte de infinita orientação e direcionamento.
E é de lá que Deus fala.
Deus ainda fala, ele não parou de falar.
Ele não é parcial.
Não é que ele tenha falado a Maomé e a Moisés e que ele não fala a você.
Ele está falando a você tanto quanto ele falou para Maomé.
A única diferença é que Maomé estava pronto para ouvi-lo e você não está pronto para ouvi-lo.
Maomé estava disponível e você não está disponível.
Tornar-se disponível à sua própria natureza interior é o que eu chamo de meditação.
Lembre-se dessas duas palavras.
O caráter é uma invenção dos políticos e dos padres, é uma conspiração contra você.
A consciência é a sua natureza.
Sim, o homem de consciência tem um certo caráter, mas esse caráter segue a sua natureza.
Não lhe foi imposto por alguém, esse caráter é a sua própria decisão.
E ele não está preso a esse caráter, ele está totalmente livre para mudá-lo a qualquer momento.
As circunstâncias mudam, a sua consciência lhe dá diferentes direções e ele muda o seu caráter.
O homem de caráter, o 'chamado homem de caráter', está preso.
Mesmo se as circunstâncias mudarem ele segue repetindo o mesmo caráter, mesmo que não seja mais relevante, mesmo que não seja mais adequado.
O contexto no qual ele tinha um significado desapareceu, mas ele segue repetindo as mesmas tolices.
Ele é como um papagaio.
Ele é uma máquina: ele não responde, ele simplesmente reage.
Um homem de consciência responde e suas respostas são espontâneas.
Ele é como um espelho.
Ele reflete tudo aquilo que se confronta com ele.
E a partir dessa espontaneidade, a partir dessa consciência, um novo tipo de ação surge.
Essa ação nunca cria qualquer escravidão, qualquer carma.
Essa ação liberta você.
Você alcança a liberdade se você ouvir a sua natureza.
Mas esse simples conselho parece ser muito difícil para as pessoas.
Ele deveria ser a coisa mais simples do mundo.
Cada criança nasce seguindo sua natureza, mas na medida em que você cresce, pouco a pouco você vai perdendo o contato com ela.
Você é forçado a perder o contato com ela.
O contato pode ser recuperado, ele pode ser redescoberto.
Anos mais tarde, quando você tiver se tornado uma pessoa culta, preso dentro de um certo caráter, completamente cego para com seu coração e sua natureza, você começa a formular muitas perguntas.
Outro dia, o Prem Vijen perguntou: 'Osho, o que você quer dizer quando você diz Vá para dentro?
' Uma declaração tão simples, 'Vá para dentro', e você me pergunta 'o que eu quero dizer com ela?
' Você não consegue entender estas simples palavras, 'vá para dentro'?
Eu sei que você conhece as palavras, mas ir para dentro tornou-se muito difícil porque você só aprendeu como ir para fora.
Você só pode ir para fora, você só sabe como ir, se for para fora.
A sua consciência está voltada para os outros, ela esqueceu o caminho para ela mesma.
Você segue batendo na porta dos outros e sempre que é dito a você, 'vá para casa' você diz: ' Osho, o que você quer dizer com ir para casa?
' Você só conhece as casas dos outros, você não conhece o seu próprio lar.
E você está carregando esse lar dentro de você.
Você foi forçado a ser extrovertido.
Você tem que aprender de novo o caminho de ir para dentro.
Soren Kierkegaard disse: 'Religião significa ir para dentro', ir para a sua própria interioridade.
Mas as simples palavras 'ir para dentro' tornaram-se tão difíceis de entender.
A mente conhece apenas como ir para fora, e nela não há qualquer marcha a ré....
Eu estou ensinando a você aqui que a marcha a ré está aí, embutida, você apenas se esqueceu dela.
Você sabe como ir para fora.
Ninguém pergunta 'O que você quer dizer quando diz 'vá para fora'?'.
Mas todo mundo quer perguntar 'O que você quer dizer quando diz 'vá para dentro'?'. Simples palavras! Pensar é ir para fora e não pensar é ir para dentro.
Pense e você já começou a se mover para fora de si mesmo.
O pensamento é a maneira de levar você para longe.
O pensamento é um projeto.
Não-pensamento... e de repente você está dentro.
Sem pensamento você não pode ir para fora, sem desejo você não pode ir para fora. Você precisa do combustível do desejo e do veículo do pensamento para ir para fora.
Sentando-se silenciosamente, nada fazendo... nem mesmo pensando, nem mesmo desejando... e onde você estará?
Ir para dentro não é verdadeiramente ir para dentro.
É simplesmente parar de ir para fora... e de repente você encontra a si mesmo dentro.
Prem Vijen, você não precisa ir para dentro porque se você for, você irá sempre para fora.
Ir significa ir para fora. Pare de ir! Pare de ir a qualquer lugar!
Você consegue sentar-se silenciosamente sem ir a qualquer lugar?
Sim, fisicamente você pode sentar-se, isso não é muito difícil.
Você pode aprender uma postura de yoga e você pode fazer de seu corpo quase uma estátua, mas o problema é: o que você está fazendo do lado de dentro?
Desejos, pensamentos, memórias, imaginação, todos os tipos de projetos? Pare com eles também.
Como parar com eles?
Simplesmente torne-se indiferente a eles, despreocupado.
Mesmo que eles estejam ali, não dê atenção a eles.
Mesmo que eles estejam ali, não lhes dê qualquer importância.
Mesmo que eles estejam ali, deixe-os estar.
Sente-se silenciosamente do lado de dentro, observando.
Lembre-se dessa palavra: observando, testemunhando, simplesmente estando alerta.
E na medida em que esse observar cresce, se torna mais profundo, a mesma energia que estava se tornando desejos, pensamentos, memórias e imaginação, essa mesma energia é absorvida em nova profundidade.
A mesma energia é usada por esse aprofundamento interno.
E você saberá o que quero dizer quando digo 'Vá para dentro'.
Não comece a procurar nos dicionários ou na Enciclopédia Britânica.
Não é uma questão de palavras.
Palavras são simples para compreender.
Quando eu digo 'Vá para dentro', é isso exatamente o que eu quero dizer: vá para dentro!
Não comece a perguntar sobre as palavras. Escute a mensagem oculta, senão você irá perder o trem.
O que eu quero dizer com 'perder o trem'?......... Se você se tornar muito interessado em palavras, 'O que quer dizer com ir para dentro?
O que isso quer dizer...?' Verbalmente, lingüisticamente, Vijen, você vai perder o trem.
Não desperdice tempo com palavras!
E essa é particularmente uma nova espécie de doença que tem atingido os intelectuais do mundo.
Pelo menos por cinqüenta anos, o mundo filosófico tem se tornado muitíssimo interessado em palavras e análises lingüísticas.
Eles não perguntam mais o que é Deus.
Eles não perguntam mais se Deus existe ou não. Os filósofos contemporâneos perguntam, 'O que quer dizer quando você usa a palavra Deus?
' A questão não é se Deus existe ou não.
A questão não é o que é Deus.
A questão não é como se alcança Deus.
Agora a questão tomou uma nova direção: 'O que você quer dizer quando você usa a palavra Deus?
' O que você quer dizer quando você usa a palavra rosa?
Essa questão é mais fácil.
Você pode pegar o filósofo, forçá-lo a ir até o jardim e mostrar a ele a rosa.
'Isso é o que eu quero dizer quando eu uso a palavra rosa'.
Mas isso não pode ser feito com a palavra Deus, isso não pode ser feito com a palavra meditação, isso não pode ser feito com as palavras 'vá para dentro'.
Estes são fenômenos sutis.
Não se torne um interessado em lingüística.
Eu não estou aqui para ensinar análise lingüística a você.
Toda a minha abordagem é existencial.
Se você realmente quer saber o que significa ir para dentro, então vá para dentro!
E o caminho é: observe os seus pensamentos e não se identifique com eles.
Simplesmente permaneça um observador, completamente indiferente, nem contra nem a favor.
Não julgue, porque qualquer julgamento traz identificação.
Não diga, 'Estes pensamentos são errados' e não diga, 'Estes pensamentos são bons'.
Não faça comentários sobre os pensamentos.
Deixe que eles passem como se eles fossem apenas a passagem do tráfego e você está de pé ali ao lado da rodovia despreocupado, olhando o tráfego.
Não interessa o que está passando, um ônibus, um caminhão ou uma bicicleta.
Se você puder observar o processo de pensamentos de sua mente com tal despreocupação, com tal desapego, não estará longe o dia em que todo o tráfego desaparece... porque o tráfego somente pode existir se você seguir dando energia para ele.
Se você parar de dar energia para ele...
E isso é o observar: parar de dar energia para isso, parar a energia que se move dentro do tráfego.
É a sua energia que faz aqueles pensamentos se moverem.
Quando a sua energia não os está alimentando, eles começam a cair, eles não conseguem se manter em pé por si mesmos.
E quando a rodovia da mente estiver completamente vazia, você está dentro.
Isso é o que eu quero dizer, Vijen, quando eu digo 'Vá para dentro'.
E isso é o que Buda quer dizer quando ele diz: 'Siga a sua natureza'."
OSHO - The Book of the Books - Volume I - Discourse n. 3 Palestras sobre O Dhammapada, de Gautama, o Buda tradução: Sw.Bodhi Champak
Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça
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