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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Maturidade, Seriedade, Verdadeiro, Falso; Conceitos



Assim, (…) percebemos a necessidade de uma revolução fundamental na própria estrutura do cérebro; “estrutura”, não no sentido biológico, porém estrutura de nosso pensar, o padrão de nossos pensamentos, impulsos, ânsias. Para promover a revolução fundamental, necessita-se de grande quantidade de energia: e essa energia só pode tornar-se existente quando há madureza - não a madureza que pensamos poder alcançar mediante o ajuntamento de muitos fragmentos. Mas, como suscitar essa madureza?

Percebe-se a necessidade dessa revolução; (…). E como produzir essa madureza e essa energia? O indivíduo está amadurecido - não em relação ao tempo, à idade, etc. - amadurecido, rico, completo, quando é capaz de olhar, de observar, de viver sem amargor, sem medo, sem desejo de preenchimento, pois isso denota falta de madureza. (…)

Quando compreenderdes, quando perceberdes, realmente, que não há, fora de vós, ninguém que possa ajudar-vos - nem deuses, nem gurus, nem políticos, ninguém - já não vos achareis no estado de madureza? Estareis então livres do medo de errar, do medo de não fazer o que é certo. (…)

Mas, para mim, a madureza é algo completamente diferente. Acho possível tornarmo-nos amadurecidos sem passar por todas as pressões e tribulações do tempo. Estar completamente amadurecido, qualquer que seja a idade do indivíduo, significa ser capaz de enfrentar e resolver imediatamente qualquer problema que se apresente, em vez de “transportá-lo” para o dia seguinte. (…)

Assim, pois, ser “amadurecido” é aprender; não é “adquirir conhecimento”. (…) Mas achar-se no estado de madureza a que me refiro, significa a pessoa ver a si própria tal como é realmente, momento a momento, sem acumular conhecimentos a respeito de si própria; porque essa madureza implica rompimento com o passado, e o passado é, essencialmente, um empilhamento de conhecimentos.

Mas, voltemos à nossa questão: como promover a madureza instantânea? A essa madureza está associada a energia; como produzi-la? Ou não existe método algum e o necessário é apenas perceber a verdade, isto é, que depender de alguém, de (…) sistema ou filosofia, de um guru, é falta de madureza; perceber essa verdade instantaneamente.

Senhor, para descobrirdes se Deus existe, deveis estar livre da idéia de Deus. Para descobrir, é necessário investigar, perquirir, indagar, interrogar. Isso, por certo, faz parte da madureza. O fazer perguntas corretas, investigar corretamente, exige energia.

A maturidade não vem com o tempo nem com a idade. Não existe intervalo entre o presente e o amadurecimento; (…). A maturidade é aquele estado no qual cessou toda forma de escolha; só os imaturos escolhem e conhecem o conflito nascido da escolha. Na maturidade não existe direção qualquer, mas, sim, aquela que não vem da escolha.

(…) Qualquer espécie de conflito revela imaturidade. Não existe amadurecimento psicológico, a não ser o inevitável processo orgânico de crescimento. Maturidade é a compreensão que transcende todo e qualquer conflito. (…)

(…) Senhores, a maturidade não é questão de idade. Embora, na maioria, sejamos mais velhos, nós somos infantis, temos medo do que pensa a sociedade. (…) Os que são velhos buscam a permanência, (…) e os moços querem também a segurança. Como disse, a maturidade não reside na idade: vem com a compreensão. (…)

Estávamos falando sobre madureza? (…) A madureza tem alguma relação com a idade da pessoa? Tem alguma relação com a experiência, o saber, a capacidade? Tem alguma relação com a competição e a acumulação de dinheiro? Se não, que é a madureza? Está ela em alguma relação com o tempo? (…)

(…) Assim, só a mente inocente é madura, e não aquela que acumula conhecimentos milenares. O conhecimento é necessário e tem significado num certo nível; mas o conhecimento, o saber, não produz claridade, inocência. Só há inocência quando todo conflito terminou. Quando a mente já não está se movendo em nenhuma direção determinada, uma vez que todas as direções foram compreendidas; acha-se ela, então, nesse estado de originalidade, que é a inocência, e, daí, pode atingir a imensidade onde se encontra o Supremo; só então a mente é madura.


Essa “qualidade”, essa madureza - devemos fazê-la depender do tempo, das circunstâncias, das inclinações ou de uma dada tendência? É ela como um fruto que amadurece durante o verão e está prestes a cair no outono; que necessita de tempo, de muitos dias de chuva, de sol (…)? (…) Acho que não há tempo a perder e que devemos amadurecer de pronto, não biológica ou fisiologicamente, porém interiormente tornar-nos total e completamente amadurecidos.


Desejaria (…) discutir convosco o problema da busca e o que significa ser “sério”. (…) As pessoas ditas religiosas estão supostamente em busca da verdade, de Deus. (…)


Uma pessoa pode buscar, mas, se lhe falta “seriedade”, sua busca será dispersa, esporádica, desconexa. A “seriedade” acompanha sempre a busca, e é bem evidente que vos achais aqui porque sois “sérios”. (…)


Certamente, até os maiores cientistas têm de abandonar todo o seu saber, antes de poderem descobrir qualquer coisa nova; e se vós sois sérios, esse abandono do conhecimento, da crença, da experiência tem de efetuar-se realmente. Os mais de nós somos um tanto “sérios”, quando se trata de nossas próprias conclusões, mas eu acho que isso de modo nenhum é seriedade. (…) O homem sério, sem dúvida, é aquele que é capaz de abandonar as suas conclusões porque percebe que só assim está capacitado para investigar.


Todo homem deve ser sério, porque só os sérios são capazes de viver uma vida completa, total. Essa seriedade não exclui a alegria, a jovialidade; mas, enquanto existir medo, não haverá possibilidade de saber o que significa ter uma grande alegria. O medo parece ser uma das coisas mais comuns da vida (…).

Estive a considerar o que significa ser sério. Em geral, temos a impressão de que somos bastante sérios; entretanto, nunca indagamos qual deve ser o estado da mente que de fato é séria - de fato, e não apenas séria “em relação a alguma coisa”. (…) Tal é o caso do homem que toma “seriamente” uma bebida ou que “seriamente” se devota a uma idéia, (…) causa, (…) compromisso, e se esforça por levá-lo a bom termo.

Consideramos “sérias” as pessoas que têm um conceito, idéia ou ideal a que se consagram lógica, brutal, impiedosamente, ou com certa simpatia humana. (…) É sério aquele que segue determinado plano de ação (…), vivendo de acordo com tal padrão e, portanto, condicionado? Tal pessoa, para mim, não é de modo algum séria (…).

Por “pessoa séria”, não entendo o indivíduo que está ligado a dado padrão de crença e que funciona em conformidade com essa crença; em geral, esse indivíduo é tido como ente maravilhoso e sério; mas eu não o chamo “sério” (…). Também a pessoa que se devotou a determinado movimento, e dessa linha não se desvia, é considerada pessoa muito séria; mas eu não a chamo “séria”. (…)

Assim, pela palavra “sério” entendemos coisa muito diferente. (…) Por “mente séria” entendo aquela que percebe o que é verdadeiro - não de acordo com um certo padrão de crença ou certa autoridade (…).

Pois bem, que é “estar sério, ser sério”? Podemos mostrar-nos sérios a respeito de coisas muito superficiais. Quando (…) uma jovem quer comprar um sari, poderá dispensar (…) toda a sua atenção (…).

Assim, pois, pode-se ser sério a respeito de coisas falsas. Mas, se começais realmente a investigar o que significa ser sério, vereis que há uma qualidade de seriedade que não se traduz em atividade em torno de coisas falsas, que não é moldada segundo um padrão.

(…) Somos muito sérios em relação a certas coisas que nos proporcionam grande prazer, satisfação; desejamos a todo custo cultivar esse prazer - seja o prazer do sexo, seja o do preenchimento de uma ambição - um prazer qualquer. Mas bem poucos de nós são sérios no tocante ao percebimento do problema da existência, dos conflitos, das guerras, das ânsias, dos desesperos, da solidão, do sofrimento.

Ser sério em relação a essas coisas fundamentais significa aplicar a elas uma atenção contínua, e não um simples e esporádico interesse (…). Aquela seriedade deve constituir a base de nosso pensar, viver e agir; (…). Quanto mais sérios formos, interiormente, tanto mais madureza teremos. A madureza nada tem que ver com a idade (…). Não é questão de acumular incontáveis experiências ou um saber imenso. (…) Só é possível essa madureza com o conhecimento mais amplo e mais profundo de nós mesmos.

Que entendeis por “seriedade”? Ser sério, ardoroso, implica naturalmente a capacidade de descobrir o que é verdadeiro. (…) Se a mente está acorrentada pelo saber, pela crença, (…) à mercê das influências condicionadoras (…), pode ela descobrir alguma coisa nova? (…)

(…) A mente dividida por desejos distintos, cada qual a arrastá-la numa direção diferente, é capaz (…) de descobrir o que é verdadeiro? Por conseguinte, não é muito importante possuirmos autoconhecimento, aplicar-nos seriamente à operação de compreender o “eu” com todas as suas contradições? (…)

(…) Porque seriedade (…) supõe (…) aplicação ao aprender, quer dizer, aplicar toda a atenção a estudar não apenas determinada matéria, uma particularidade da vida, porém o todo da vida, que é um campo imenso. (…) Sério, ardoroso, apaixonado, “intenso”, é aquele que procura compreender o inteiro processo da consciência, ou seja, o todo da vida.

Por conseguinte, para o homem sério, que deseja aprender, o primeiro requisito é que esteja livre para investigar - isso significa não ter medo; que esteja livre para olhar, observar, criticar; que seja inteligentemente cético, não aceite opiniões. (…) Como antes dissemos, quando caminhamos com a luz de outrem, essa luz nos levará à escuridão - não importa quem seja o que nos oferece a luz. Mas, para podermos caminhar com a luz de nossa própria compreensão, é preciso atenção e silêncio e, por conseguinte, muita seriedade.


Pergunta: Que significa “ser sério”? Tenho a impressão de não ser “sério”.

Krishnamurti: Investiguemos (…). Não vou definir o que é “ser sério”; não aceiteis definições de espécie alguma. Se um homem deseja descobrir uma nova maneira de vida - uma vida livre de violência, ( …) de total liberdade interior, e a esse descobrimento devota seu tempo, sua energia, seus pensamentos, tudo - a essa pessoa eu chamaria de homem sério. Esse homem não se deixa facilmente desviar de seu intento; poderá buscar entretenimentos, mas sua rota está traçada. Isso não significa ser dogmático, obstinado, inadaptável. Ele está pronto a prestar ouvidos a outros, a considerar, examinar, observar.

Pode acontecer que, nessa seriedade, um homem se torne egocêntrico; esse egocentrismo, de certo, o impedirá de examinar; mas o “homem sério” tem de prestar ouvidos aos outros, examinar, indagar constantemente; isso significa que ele deve ser altamente sensível. (…) Esse homem, pois, está sempre a escutar, a buscar, a investigar, a descobrir - com um cérebro sensível, uma mente sensível, um coração sensível - que não são coisas separadas; está a investigar com esse todo (…).

A mente vulgar, superficial, pode também tornar-se mui “séria”; mas, quando se torna “séria”, torna-se também algo absurda. Não sei se já notastes como as pessoas de mente vazia se mostram, freqüentemente, muito sérias. São muito loquazes, tomam ares importantes (…); entretanto, continua a ser uma mente muito pouco profunda.

E há, também, a mente muito lida, muito hábil no argumentar, no analisar, capaz de aduzir citações, extraídas de seu vasto reservatório de conhecimentos. Como muito bem sabeis, esse tipo de mente é solerte, incisiva, hábil, mas eu não a chamaria de mente séria, nem tampouco à mente superficial que quer mostrar-se séria. (…)


Chamo séria à pessoa que está constantemente olhando, observando, atenta a si própria e a outros, observando seus próprios gestos, palavras, sua maneira de falar, (…) de andar; e que está também atenta às coisas que a cercam, às pressões, às tensões, à influência do ambiente, da “cultura” em que se criou, e à totalidade de seu próprio condicionamento. (…) Só essa mente é capaz de exame refletido, de dedicar sua energia a descobrir algo além das coisas construídas pelo homem - algo que se possa chamar Deus. (…)

(…) Para que possam ser resolvidos esses dois problemas fundamentais, a violência e o sofrimento, temos de ser sérios e possuir também certa capacidade de percebimento, de atenção, porquanto ninguém pode resolvê-los para nós. (…) Para o homem sério, as autoridades perderam toda a importância. É claro que não tem sentido dependermos de nenhuma autoridade (…).

Ao que parece, há muito pouca gente verdadeiramente séria. Pela palavra “sério”, entendo ter a capacidade de examinar um problema até o fim e resolvê-lo. Resolvê-lo, não conforme as inclinações pessoais ou o temperamento de cada um, ou sob pressão do ambiente, porém deixando tudo isso de parte e investigando até o fim a verdade relativa a dada questão. Essa seriedade parece um tanto rara. (…)

A maior parte de nós, em ficando graves, perde o senso de alegria. A seriedade sem alegria, (…) em muitos casos é artificial, e por isso deve ser evitada. (…)

(…) Se cultivardes a seriedade com a alegria que decorre do fato de o terdes em vosso coração (o Eterno), como parte de vós mesmos, então essa seriedade se torna deleite em vez de se tornar morbidez e expressões rudes. (…)

Assim, pois, o descobrimento do que é verdadeiro no falso é a origem do descontentamento - não só naquilo que o orador diz, mas (…) no que dizem os políticos, (…) vossos gurus, (…) livros (…). Ver o que é falso, ver também a verdade no falso, e ver a verdade como verdadeira. (…)


Pensar negativamente é o começo da inteligência. E dessa inteligência tendes necessidade, para poderdes investigar o que é verdadeiro e o que é falso nas coisas que o homem aprendeu desde a infância, como religião, como dogma, como crença (…). Dessa inteligência necessitais para questionar, (…) investigar, (…) descobrir o que é verdadeiro por vós mesmos e sem precisardes ser instruído por outra pessoa sobre o que é a verdade. (…)

Que é o falso? É falso tudo aquilo que o pensamento há acumulado - psicologicamente, não tecnologicamente. Noutras palavras, o pensamento há acumulado o “eu” e o “meu”, com suas recordações, sua agressão (…) separatividade, suas ambições, sua competência, (…) imitação, seu medo; (…). De modo que o pensamento, como o “eu”, que em essência carece por completo de realidade, é o falso. Quando a mente compreende o que é o falso, então aí está a verdade. (…) Uma mente que é ambiciosa, (…) que quer lograr algo, (…) que é agressiva, competitiva, imitativa, (…) não pode compreender o que é o amor.

O verdadeiro e o falso não dependem de vossa opinião, ou daquilo que já sabeis, ou de vossa experiência. Porque (…) é apenas a continuação do velho condicionamento, modificado de várias maneiras pela educação. Por conseguinte, vossa experiência não é o fator que indica o que é verdadeiro ou o que é falso. Tampouco o é o vosso conhecimento, porquanto o verdadeiro e o falso estão constantemente a alterar-se, a mover-se, constantemente ativos, dinâmicos, nunca estáticos.

E se tentais discerni-los com vossas opiniões, juízos, experiência, tradição, nunca descobrireis por vós mesmos o que é verdadeiro, principalmente se estais sob o domínio da autoridade - se vossa mente está a obedecer. A mente, então, (…) é incapaz de explorar, de descobrir. E a verdade tem de ser descoberta a cada minuto, e nisso consiste sua beleza. Sua beleza é sua energia. (…)

Percebendo o artifício com que enganastes a vós mesmos, podeis então ver o falso como falso. A luta, a perseguição de uma ilusão é o fator desintegrador. Todo conflito, (…) vir a ser, é desintegração. Quando há percepção do artifício com que a mente enganou a si própria, resta, então, só o que é. (…) Só nessa transformação há integração.

Fonte :http://www.krishnamurti.org.br/?q=node/558




Maria Elisete Shalom...

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