Pesquisa
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Transtorno da falta de contato com a Natureza (Nature Deficit Disorder)
Transtorno da falta de
contato com a Natureza (Nature Deficit Disorder), é um termo criado pelo escritor e
jornalista norte-americano Richard Louv em seu livro de 2005, Last Child in the
Woods (Tradução: A Última Criança nas Florestas). Refere-se à alegada tendência
de as crianças terem cada vez menos contato com a natureza, resultando em uma
ampla gama de problemas de comportamento. Esta doença não é ainda reconhecida em
qualquer um dos manuais de medicina de transtornos mentais, como o CID-10
(Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde) ou o DSM-IV (Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Transtornos
Mentais) nem é parte da proposta de revisão deste manual
Louv alega que
as causas para o fenômeno incluem o medo dos pais, acesso restrito às áreas
naturais, e da atração pela TV ou computador. A pesquisa recente tem gerado um
contraste maior entre a diminuição do número de visitas aos Parques Nacionais
nos Estados Unidos e aumento do consumo de meios eletrônicos por
crianças.
Richard Louv passou 10 anos viajando pelos EUA entrevistando e
conversando com pais e filhos, tanto em áreas rurais e urbanas, sobre suas
experiências na natureza. Ele argumenta que a cobertura da mídia sensacionalista
e os pais paranóicos têm assustado as crianças de freqüentarem áreas naturais
(matas, campos...), enquanto promove uma litigiosa cultura do medo que favorece
a prática de esportes seguros com regras ao invés de brincadeiras
criativas.
Ao reconhecer essas tendências, algumas pessoas argumentam que
os seres humanos têm um gosto instintivo para a natureza, a hipótese da
biofilia, e adotam certas medidas para passar mais tempo ao ar livre, por
exemplo, em educação ao ar livre, ou através do envio de crianças a jardins da
infância (Forest Kindergarden) ou
escolas (Forest Schools) na floresta,
que são escolas especiais criadas nos Estados Unidos e países da Europa, onde as
crianças ou estudantes brincam e aprendem do meio de uma mata preservada ou
bosque utilizando os elementos que encontram na nestes ambientes. Talvez seja
uma coincidência que os adeptos do movimento Slow
Parenting (pais sem pressa)*
enviam suas crianças para educação em ambientes naturais, ao invés de mantê-los
dentro de casa, como parte de um estilo livre de educar os filhos
*O movimento Slow Parenting (pais sem pressa)
defende que “menos é mais”: menos coisas, menos actividades, menos pressa, menos
pressão, menos expectativas. Mais tempo para crescer fará as crianças mais
felizes. É um estilo de educação dos pais em que poucas atividades são
organizadas para as crianças. Em vez disso, elas são autorizadas a explorar o
mundo ao seu próprio ritmo. O movimento Slow Parenting tem o objetivo de
permitir que as crianças sejam felizes e fiquem satisfeitas com suas próprias
realizações, mesmo que isto não pode torná-las mais ricas ou mais famosas. Os
pais das crianças de hoje são frequentemente encorajados a repassar o melhor
possível de suas experiências de infância, para garantir a estas crianças o
sucesso e felicidade na vida adulta.
A natureza não é apenas para
ser encontrado em parques nacionais. O capítulo "Jardim do Eden em um terreno
baldio", de Robert M. Pyle (página 305) enfatiza a possibilidade de exploração e
fascínio em pequenas áreas que podem ser lotes desocupados de terrenos com
vegetação nativa, e se alegra com as 30.000 lotes sem construção em Detroit, que
surgem devido à decadência no centro da cidade.
Causas
• Os pais estão mantendo
as crianças dentro de casa, a fim de mantê-los a salvo de perigo. Richard
Louv acredita que podemos estar protegendo exageradamente as crianças de tal
forma que se tornou um problema e prejudica a capacidade da criança de manter
contato com a natureza. O crescente temor dos pais de "perigo desconhecido", que
é fortemente alimentada pelos meios de comunicação mantém as crianças dentro de
casa e no computador ao invés de explorar ao ar livre. Louv acredita que esta
pode ser a causa principal de transtorno da falta de contato com a natureza, uma
vez que os pais têm um forte controle e influência sobre a vida de seus
filhos.
• Perda de paisagem natural no
bairro ou cidade de uma criança. Muitos parques e reservas naturais têm
acesso restrito e placas de advertência "não ande fora da trilha".
Ambientalistas e educadores ainda adicionam a restrição ao dizerem às crianças
"olhe, mas não toque". Enquanto eles estão protegendo o ambiente natural, Louv
questiona o custo dessa proteção na relação as nossas crianças com a
natureza
• Aumento de atrativos para
passar mais tempo dentro de casa. Com o advento do computador, videogames
e televisão as crianças têm mais e mais motivos para ficar dentro de casa, "A
criança norte-americana gasta em média gasta 44 horas por semana com mídias
eletrônicas"
Efeitos
• As crianças têm limitado respeito ao ambiente natural
mais próximo. Louv diz que os efeitos do transtorno da falta de contato
com a natureza para os nossos filhos será um problema ainda maior no futuro. "Um
ritmo crescente nas últimas três décadas, aproximadamente, de uma rápida perda
de contado das crianças com a natureza tem profundas implicações, não só para a
saúde das gerações futuras, mas para a saúde da própria Terra." Os efeitos
transtorno da falta de contato com a natureza poderia levar a primeira geração
em risco de ter uma expectativa de vida menor do que seus pais.
• Podem se desenvolver transtornos da atenção e
depressão. "É um problema porque as crianças que não tiveram um contato
com a natureza parecem mais propensas à depressão, ansiedade e problemas da
falta de atenção". Louv sugere que ter atividade ao ar livre em contato com a
natureza e ficar na calma e tranquilidade pode ajudar muito. De acordo com um
estudo da Universidade de Illinois, a interação com a natureza tem provado
reduzir os sintomas dos transtornos da atenção e depressão em crianças. Segundo
a pesquisa, "No geral, nossos resultados indicam que a exposição a ambientes
naturais nas atividades comuns após as aulas ou finais de semana pode ser muito
eficaz na redução dos sintomas de déficit de atenção em crianças." A teoria da
restauração da atenção desenvolve esta idéia , tanto na recuperação a curto
prazo de suas habilidades, como na de longo prazo para lidar com o stress e
adversidades.
• Seguindo o
desenvolvimento dos transtornos da atenção e depressão e transtornos de humor,
notas mais baixas na escola também parecem estar relacionados com o transtorno
da falta de contato com a natureza. Louv afirma que estudos realizados na
Califórnia e na maior parte dos Estados Unidos mostram que os estudantes das
escolas que utilizam as salas de aula ao ar livre e outras formas de educação
utilizando experiências com a natureza apresentaram significativamente melhor
desempenho em estudos sociais, ciências, artes, linguagem e matemática. Fonte:
Artigo Orion Magazine March/April 2007
• A obesidade infantil tem se tornado um problema
crescente. Cerca de 9 milhões de crianças (6-11 anos) estão com sobrepeso
ou obesos. O Instituto de Medicina afirma que nos últimos 30 anos, a obesidade
infantil mais do que duplicou para os adolescentes e mais do que triplicou para
crianças de 6-11 anos. Fonte: National Environmental Education Foundation
• Em uma
entrevista publicada na revista Public School Insight, Louv citou alguns efeitos positivos do
tratamento de transtorno da falta de contato com a natureza: “Tudo a partir de
um efeito positivo sobre a atenção estendendo para redução do stress a
criatividade, o desenvolvimento cognitivo e seu sentimento de admiração e de
conexão com a Terra. "
A ONG No Child Left Inside
Coalition (Coalizão “Não deixe as crianças dentro de casa") trabalha para
levar as crianças para atividades ao ar livre e de aprendizagem ativa. A ONG
espera resolver o problema do transtorno da falta de contato com a natureza.
Eles agora estão trabalhando para aprovar uma lei nos Estados Unidos que
aumentaria a educação ambiental nas escolas. A ONG defende que o problema do
transtorno da falta de contato com a natureza poderia ser amenizado por
"despertando o interesse do estudante para atividades ao ar livre" e
estimulando-os a explorar o mundo natural por conta própria.
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