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quinta-feira, 11 de abril de 2013

O Pai Nosso - Uma Antropologia do Desejo ( 1° parte)

“Quando se fala de antropologia, está se falando do ser humano; e quando se fala no ser humano, está se falando também de um desejo que o anima. O homem é uma antropologia do desejo. A gente se torna aquilo que deseja e aquilo que ama: isso é um ser humano aberto para a divindade, e o seu desejo se expressa através da oração. E por isso podemos dizer que o Pai Nosso expressa o desejo de Cristo, enquanto um arquétipo da síntese, como dizem os precursores da igreja: no Seu desejo então, expressa o desejo mais profundo dos seres humanos. É por essa razão que o conhecimento do Pai Nosso é importante, para que conheçamos o desejo de Cristo, e também para conhecermos o desejo profundo que habita o coração de todos os seres humanos. Aqui, desejo corresponde a cada palavra do Pai Nosso”.
Seminário com Jean-Yves, em Fortaleza (CE): (13.09.2002)
(Após a apresentação musical instrumental de crianças). Este espaço está de festa, em busca da travessia. Depois do convite das crianças para escutar a música e dançar, não é fácil voltar para a mente.
Um sábio indiano disse: “Quando um ser humano cresce, a divindade desce para recebê-lo”.
A dança é terapeuta. Um terapeuta é o que alivia o sofrimento.
E vem a pergunta:
O que é um ser humano?
Diz Aristóteles que é um animal racional, mas não temos bem certeza disso, porque sabemos das irracionalidades que ele comete.
Homo sapiens ou homo demens ?

O ser humano é um animal insatisfeito. Porque não se contenta com a água e o sol, assim como a planta. O ser humano tem necessidades. E o objeto que satisfaz as suas necessidades não satisfaz o desejo. O homem é o ser do desejo.

E onde se enraíza o desejo?

Psicanaliticamente, o desejo se enraíza no ID que é o princípio do prazer, da vitalidade, da expressão, da expansão.

Tem o desejo que vem do Ego – que é o desejo de reconhecimento e afirmação.

Tem o desejo que vem do Self – desejo de inteireza, de realização, de plenitude.

Tem o desejo que vem do outro – desejo do amor – o outro lhe faz falta.

O ser humano não é apenas um ser que o outro lhe faz falta.

Temos a capacidade de amar o outro na sua alteridade.

O outro não é feito para ser possuído.

O meu desejo é a minha prece.

É importante distinguirmos a diferença entre necessidade e demanda.

A necessidade se satisfaz com o objeto. Se eu tenho fome, o pão me satisfaz.

Porém a demanda é algo que envolve reconhecimento.

O homem diz para a mulher: “Você tem jóias, casa. Não lhe falta nada”. O homem só satisfaz a necessidade. O desejo está além da necessidade e da demanda.

Para S. João, Jesus é o verbo encarnado, a informação criativa.

Dizia Santo Agostinho: “Minha oração é o meu desejo e o meu desejo é a minha oração”.

Existe o desejo do homem para ir, em direção à totalidade do outro. O desejo que habita nas profundezas do coração. E isso não desclassifica outros desejos.

O que este desejo pode nos revelar?

O desejo de conhecer a Deus.

Deus é impossível de se compreendido na sua totalidade. Deus não se reduz no conhecido ao nosso conceito. Deus não pode ser reduzido. Nossa representação de Deus não é absoluta. As nossas representações de Deus, nós tomamos como se fossem Deus. Deus é muito mais que todas elas.

A oração é uma forma de entrar no desejo de Deus.

Quem é este ser que reza?

Quem é este que está aberto à transcendência?

João dizia que Jesus era o verbo encarnado.

O Pai Nosso é um texto importante na teologia.

É também um texto importante na antropologia.

Como posso ler o Pai Nosso nos diferentes níveis?

(Pai Nosso significa que o demônio não está nele).

Ao rezarmos vamos ao centro profundo do nosso desejo. Pai Nosso é a oração do filho de Deus dentro de nós. Pai nosso expressa a direção do ser humano para o absoluto.

“AUM” significa Pai Nosso.

Vamos escutar o Pai Nosso em aramaico que era a língua de Jesus. Antes de escutar as palavras, é bom escutar o som. O som se torna uma palavra.

(Jean-Yves canta o Pai Nosso em aramaico)

 
 


PAI NOSSO QUE ESTÁS NOS CÉUS.


O texto que conhecemos é o grego. Qualquer que seja a nossa língua, vamos entrar no Pai Nosso.

A gente não sabe o que Jesus falou e sim o que alguém escutou. Não idolatre o Evangelho. A palavra é como o outro percebe.

O Pai nosso abre o seu coração na vertical e na horizontal.

Ao dizer Pai Nosso, não estamos sozinhos. O meu pai, é o nosso pai. Jesus é o filho mais velho de uma multidão de irmãos. O pai e eu somos um. A fonte da vida que pulsa no meu coração, não está separada da Grande Fonte da Vida. A Sua origem é a minha origem. Antes de desenhar a vertical, relação com a Fonte Criadora, desenhar a horizontal, relação com as criaturas. A cruz é a união da imanência com a transcendência, do humano com o divino, do todo outro e o todo nosso.



Quando eu falo Pai Nosso, o mundo inteiro está presente. É preciso tempo para colher no meu coração, todos os irmãos, os vales, os animais, as plantas. Não é porque se fecham os olhos que a luz não existe. Qualquer que seja a nossa fé, o importante é a qualidade da nossa humanidade.



“Logos” significa a luz que habita em todos os seres, os seres que tem dentro de si o desejo de luz. O “logos” que está em mim, em você, também, está na estrela. Todo ser que se eleva, eleva o mundo.

A reza é a relação da existência mortal com tudo que existe. Cada vez que se reza toda a humanidade reza. Toda pessoa que reorienta o seu desejo, coloca-o em contato com a Fonte do Ser. O ser humano é esse espaço onde o universo toma consciência de si mesmo, esse espaço onde o universo se religa com a Fonte, onde o próprio ser humano toma conhecimento de si mesmo. O ser humano é o lugar onde o universo reza. Rezamos pelo bem estar do universo através de nós. Quando rezamos o Pai Nosso, reencontramos a dignidade de Deus dentro de nós. Reencontramos a identidade ontológica e não a identidade individual passageira.

Deus não pode ser reduzido às palavras que se reportam ao mundo relativo. Deus está além do que se possa falar, imaginar e deduzir.


A palavra Pai chama a palavra mãe e vice-versa. “Liberte-se diante da palavra”. Se o pai é ruim, a criança não aceita que Deus seja pai.

Qual a função do pai?

Jesus vivia na sociedade patriarcal e preferiu a palavra Pai.

No enfoque da psicanálise, o pai diferencia a criança da mãe. O pai dá um nome próprio, que é diferente da mãe, e dar o nome é reconhecer o homem como o sujeito do desejo. O pai nem sempre é o genitor; e o genitor pode não ser um pai. Não há pai se não há o reconhecimento da mãe.

Quem é o pai?

O que deu a vida ou a mamadeira?

O que se ocupou com a criança é o que a mãe reconhece. O pai é aquele que ama a mãe e a criança, é o que tem desejo pela mãe e pela criança. O pai reconhece o sujeito do desejo e não o objeto de uma fabricação. Não é pelo fato de que uma filha não me reconhece que eu vou deixar de ser pai dela.


Em que momento a gente inventou o pecado?

Rei Davi tomou Jerusalém, então neste momento se começou a escrever a Bíblia.

ABBA é a palavra de um bebê, uma palavra que ainda não está articulada. ABBA é o não manifestado e o manifestado; na tradição hebraica, A = o Inefável, o Silêncio, e B = a primeira letra do Torá. O balbuciar da criança é uma oração não articulada em direção à casa, ao outro que é chamado, ao não manifestado e ao manifestado. ABBA é o que não se pode imaginar. Sempre existe algo antes do começo. Você está comigo, mesmo que eu não o sinta. Deus nos chama a fazer um movimento contra o sofrimento.

Na experiência da cruz, Jesus balbuciava ao Pai: ABBA (“Perdoai, eles não sabem o que fazem” – “Afasta de mim esse cálice” – “Eu entrego meu espírito em suas mãos”). E ouvia do Pai: “Eu te abençôo”.

Se eu não posso fazer mais nada, então que eu pelo menos, possa ter consciência. Consciência para que eu seja sujeito do meu sofrimento. A consciência que sofre, é mais forte do que a doença. E assim, eu possa estar no céu. O céu não é o que está acima da nossa cabeça e sim, o espaço dentro de nós, onde a vida é engendrada; o espaço de onde brota o nosso sopro e para onde vai o nosso último sopro.

O erro é esquecer a realidade contrária. O evangelho é paradoxal. Vamos então perceber a realidade contrária na frase: “Honrar pai e mãe e não chamar ninguém de pai”. Precisamos encontrar a nossa própria individualidade. Não fique misturado no desejo do pai e da mãe.

Pai e mãe terrestre são meios que dão a vida. Na verdade, somos filhos do vento, do sol, da terra... do desconhecido. Não devemos tomar o reflexo como se fosse a luz, precisamos nos colocar em direção à luz.

O importante é estar na escuta do desejo da criança divina que está dentro de nós. Invocar Deus como Pai, é acessar o coração do mundo. 
 

Uma das questões que mais me colocam os jornalistas é:

Qual é o elo que existe entre o nosso desejo e o Pai Nosso?

Como se a gente não pudesse imaginar uma oração que se enraíze dentro do desejo profundo do ser humano, e como se a gente não pudesse imaginar um desejo que se abre na dimensão da oração. Isto é, um sinal de integrar em nós todos, as três dimensões: corporal, psicológica e espiritual.

O ser humano é composto por todas estas dimensões e o desejo se enraíza nos corpos, atravessa nossas memórias e o nosso psiquismo, e pode se abrir à dimensão transcendental.



O Pai Nosso exprime bem todas as dimensões do desejo, porque existe no Pai Nosso, a expressão do desejo de um alimento, um desejo de perdão, um desejo de liberdade, de ser capaz de perdoar, de ser liberto do sofrimento, de não se deixar escravizar pelas dificuldades. Aquele desejo que faz brotar em nós outro espírito, e que é maior que o passado e que o nosso inconsciente. E que se enraízam na humanidade de Cristo.

Vimos que o desejo era orientado na direção de tudo que é a fonte, onde tudo vive e respira. Não é algo abstrato e sim um Pai, uma Presença que nos fundamenta enquanto sujeito. Nós não somos o resultado do acaso e da necessidade, e sim o nosso nome. É isso que simboliza o Nome do Pai. Trata-se de um Pai que está no céu.

Na oração, está no plural (Pai nosso que estás nos céus) e faz lembrar que existem muitos céus, que são espaços de consciência e de silêncio. Cada céu é um estado de consciência. É o espaço interior de nós mesmos. No evangelho Jesus nos convida a olhar esse Pai, onde estão os segredos. O céu é a dimensão secreta do ser humano. É o espaço de onde vem o pensamento, de onde vem o sopro, e para onde o sopro retorna. E por esta razão, buscar o céu, não se trata do céu em cima da nossa cabeça. É o espaço para onde a expiração retorna. A vida tem apenas um sopro.

De onde vem e para onde ele vai, o nosso sopro?

Conhecer este espaço é entrar em contato com este Pai que está no céu. A gente compreende mais as coisas quando vivencia e experiencia. Este espaço silencioso de onde vem o sopro e para onde vai retornar. Nós já somos, já estamos no lugar para onde vamos quando a gente morrer. “Eu vou em direção ao Pai”. Vou no lugar para onde vai a nossa expiração. Se a pessoa conhecer o espaço para onde a expiração vai, já se conecta com o espaço para onde vamos na morte. Pai nosso que estás no céu.

 
SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME
Seja em hebreu ou em grego, existe esta lembrança da importância do nome. Ontem falávamos que o pai é aquele que nós dá o nome. Que nos faz lembrar que somos o sujeito de um desejo e não um objeto de fabricação.

Moisés recebeu o nome que significa “salvo das águas”. Ele pode pedir da fonte do ser, o seu nome. O nome que é revelado a Moises a gente pode traduzir como “Eu Sou Aquele que Eu Sou”.

Foi dito a Abraão: “Caminha comigo e com a minha presença, e caminhando comigo, você vai descobrir quem Eu sou, como é o Meu nome”. O nome é um caminho: o nosso caminho é o nome, e o nome é o nosso caminho, é o que vai se tornar a ser.

Existem pessoas que não gostam do seu nome, e tudo depende da forma como somos chamados. Às vezes é apenas uma etiqueta social. Mas o nome é como o nosso programa genético: o que virá a ser. O nome é algo importante. Ele traz em si a presença do espírito que é invocado. Por isto que é importante não chamar o bebê de qualquer maneira.


Que nome podemos dar a Deus?

No encontro com Moisés ele se revela como o Ser, Aquele que É, Aquele que Vai Ser. No Apocalipse a gente vai retomar este nome: Ele era, Ele é e Ele será. O passado, o presente e o futuro. É importante para nós lembrarmos que Deus é aquilo que está em tudo que nos chega. Não é apenas a origem, é também aquilo que estamos indo a se tornar. Eu sou o que serei para você. Eu sou aquilo que se torna em você.

No texto bíblico existe dez nomes de Deus.

O primeiro nome é YHWH. É um nome impronunciável. O inefável. É a lembrança de que Deus está para além de qualquer nome.

O segundo é EHYEH, que fala não no seu nascimento, mas da sua qualidade. Um caminho que orienta o nosso devir. O ser que faz ser.

O terceiro nome é YAH = aleluia, que significa louvor Àquele que há. Contém o feminino e o masculino. É palavra que indica a harmonia. É por esta razão que no livro do Gêneses, o encontro entre o homem e a mulher é a imagem de Deus. No nome de Deus existe essa unidade do masculino e feminino. Existe uma aliança que está no coração de Deus, quando dois seres se encontram profundamente.

O quarto nome, EL, indica a orientação do coração. Nós somos o que somos, mas o que somos é um devir.

Em quinto, ADONAI, é o nome que significa Kyrie, o Senhor. Senhor dos mundos. O mestre dos meus desejos. Quem é meu senhor? Quem é meu mestre? Quem está orientando meu desejo? É importante conhecer o Adonai.

O sexto nome é CHADDAI e significa seio, seio da mãe. Que nos faz lembrar da dimensão materna de Deus. Cada um dos nomes é uma forma de experienciar o Ser. Algumas vezes a gente sente como se estivesse envolvido, protegido, como uma criança no seio da mãe, num momento de abandono e repouso. Isso é fazer a experiência do Chaddai..

O sétimo nome, SHABAOT, o deus dos exércitos (hierarquias). No texto bíblico, é o exército de planos angélicos. Da ordem dos anjos. Cada anjo tem um nível de ser – um plano de consciência.

Em alguns momentos a nossa inteligência é mais vasta do que nossa inteligência habitual, e temos uma compreensão mais ampla do mundo. É a experiência do Querubim. Esta experiência se mostra quando somos capazes de amar além dos limites.

Existe também a experiência dos Serafins, que se deu com S.Francisco, no momento em que suas mãos se abriram e receberam todos os sinais da presença de Cristo. O psiquismo humano pode se abrir para algo que é maior que ele.

O nosso universo se constitui de diferentes níveis de ser: o mundo mineral, o mundo animal e vegetal; também entre nós existem mundos divididos por outros mundos. Entre os mundos existe uma ordem que obedece às leis e estabelece a ponte entre os mundos.

Existe uma ponte entre o mais celestial e o mais terrestre. Nós somos todos destinados a nos tornarmos soberanos pontífices (nos tornarmos elos). É preciso estabelecer a ponte entre o visível e o invisível. Neste momento entre em contado com o Deus, o Shabaot ou Tseuxot.

O exército do ser, das letras, das palavras, da escritura, é aquele que estabelece o elo entre os diferentes pontos, e que faz ter sentido uma palavra.

O oitavo nome é ELOHIM. A palavra está no plural e nos faz lembrar que existe mais de um Deus. No Deus UNO existe uma pluralidade de energia. A tradução do nome é “os deuses que criam Deus é uma energia criadora”. Existe só um sol, mas uma multidão de raios de sol. Entre em comunhão com as energias da natureza, sabendo que o centro do sol está sempre inacessível. O sentido de Deus é inacessível como a criação do sol. O que se conhece de Deus não é sua essência, mas sua energia. São os raios do sol. As energias de Deus também são raios de sol. Os raios de sol nos fazem perceber dentro de cada um, a capacidade - o que a gente pode perceber de deus.

O poeta Rilke diz que “Deus é uma direção, uma orientação em direção ao interior de nós mesmos”. É por isso que é importante o nosso desejo. Pois é através de nosso desejo que a nossa vida se orienta. Acorde o desejo dentro de você

O nono nome é YESHOUA, que significa Divino. Usa quatro letras do tetagrama. Dentro do coração das quatro letras, tem uma letra que significa que o fundo do ser é cura, é liberdade, é por esta razão que vamos traduzir o nome de Jesus como Deus libertador. Há em nós uma experiência que nos faz provar a experiência de Deus. Uma experiência de liberdade. E isto nos aproxima de Deus.

O décimo nome é ABBA, sobre o qual já nos referimos antes.

Santificado seja o Vosso nome, o nome que Jesus mais particularmente vai evocar: Eu Sou, Aquele que envolve, Aquele que liberta, vai ser o nome do Pai.

É interessante dizer que o nome do Pai, introduz o feminino em Deus. Aquilo que faz do homem o pai, é a presença da mulher. Sem a mulher não existe um pai. Não existe pai sem mãe e vice-versa. Você pode ter uma mulher sem homem, ou um homem sem mulher, mas não pode ser pai, sem mãe.

Então, o que Jesus nos lembra é que o nome que ele deseja santificar, é o nome da relação, da relação de amor. Existe uma relação de amor que engendra o mundo.

Isto me faz pensar no mundo que estamos vivendo. Hoje em dia, tem muitos homens que gostariam de ser pai , sem ter uma mulher. Procura-se, nos jornais, um genitor. Procura-se um útero de aluguel, mas não uma mãe. A gente perdeu o sentido da palavra pai e mãe.

Quando Jesus se dirige a Deus como um pai, não é um pai celibatário. Jesus introduziu o feminino. A origem da terra é relação. Isto existe na física atômica. - O átomo não existe por ele mesmo, ele está em relação com aquilo que o envolve. A gente nasceu de uma relação, nossos encontros são como ecos de átomo fundador.

A gente precisa santificar a relação. Todos nascemos de uma relação. O evangelho de Felipe insiste na relação entre o homem e a mulher; mesmo difícil de realizar, é na relação deste encontro que Deus existe.

Então temos de santificar o nome, todos os nomes de Deus, mais particularmente o nome do amor. Esta é uma nova maneira de falar de amor.

Na origem do mundo existe o amor incondicional do pai e mãe - é como um eco.

Seja santificado. O que quer dizer a palavra “santificado”? Literalmente, “o povo separado”. Em hebreu, o povo santo. Alguém diferente. Quando a gente fala de um povo santo é um povo diferente, separado. O santo não é aquele que tem muitas virtudes. É alguém que tem uma outra maneira de agir no coração do mundo, que introduz o amor onde não há o amor. Que introduz a compreensão onde só existe revolta. Santificar o nome é reconhecer aquilo que ele tem de diferente. Através do nome nós nos diferenciamos um dos outros. E isto é uma diferenciação. Por isto é que é importante ser reconhecido pelo nosso nome.

Maria Madalena, no dia da ressurreição, ela reconhece Jesus na hora que ele diz o seu nome. Santificar Deus é reconhecer que ele é diferente. É reconhecer aquilo que ele tem de incomparável.

A gente vive comparando as coisas e pessoas, mas a santidade, é incomparável. Quando se ama alguém, existe algo que nos escapa e é isto que eu não posso reduzir ao conhecimento que eu tenho do outro, e que é incomparável.

Precisamos honrar e santificar aquilo que é próprio do outro, as diferenças. Santificar o nome é colocar em prática, é experimenta-lo. E cada nome de Deus é uma experiência de harmonia, de orientação. Experimentar o nome do Pai é fazer a experiência da fecundidade e do amor incondicional. Ser fecundo nem sempre quer dizer fazer criança embora isto seja muito importante. Existe uma fecundidade criativa no mundo da arte e da ciência; e voltamos ao ensinamento do gênesis.

Trata-se de frutificar, de trazer frutos, de florescer. Isto significa tornar-se fecundo.O amor é criador e fecundo, no amor e na inteligência criativa de Deus.

Jesus é aquele que vem revelar o nome do Pai. Na sua vida ele vai encarnar todas as realidades que serão evocadas com seu nome: “o convite para a palavra”, onde todas as pessoas se lembraram da sua identidade divina, de cada uma das palavras; e se for colocada em prática, a vida pode ser frutificada, o nome santificado. É o filho que manifesta as profundidades do ser.

“Eu vim para mostrar a vida em abundância”, diz Jesus.

VENHA A NÓS O VOSSO REINO.

Diante disso nos perguntamos: O que reina em nós?

Antes de falar do reino de Deus, é importante saber o que está reinando sobre o nosso espírito e nosso desejo.

O que reina é o passado e o inconsciente. A gente não faz o que quer. Existem memórias que nos condicionam.

Como deixar de viver sobre os grilhões do passado?

Abrir o inconsciente e entrar no reino do espírito. Venha nós o Teu espírito santo. Que seja o Teu espírito que reina em mim. Para um de nós o reino, é uma mulher que nos dirige. Para alguns o que reina é uma ideologia em forma de pensamento.

O que reina sobre nós?

Algumas vezes, quem reina sobre nós é a sombra. Na passagem trata de lembrar que não existe um possuir Deus. Deus é aquele que liberta. Isto faz toda a diferença entre um tirano e um rei. O Faraó é o que nos reduz a uma escravidão. E Jesus é o que nos transforma em seres livres. O nosso faraó muitas vezes é o nosso ego. O ego pode nos dirigir. Pode ser ainda uma coisa mais profunda.

A gente não é só dirigido por algo exterior, uma mulher, uma ideologia, ou espíritos que se infiltram, ou um passado, mas por um sopro, uma inspiração, e então podemos falar no reino de Deus. O que nos torna leve e nos faz respirar profundamente e amplamente. Num certo momento da vida, isto respira dentro de nós. O desejo de Cristo é essa libertação do ser humano, a fim de que possa reinar dentro de nós com o sopro Dele, e isso nos conduz.

SEJA FEITA A NOSSA VONTADE.

Que a gênese do Seu desejo se realize em mim. Que se realize o Teu bom prazer. Pede a Deus que esteja vivo dentro de nós.

O que Deus quer? E tudo depende novamente da imagem que se tem de Deus. Quando se pergunta: O que Deus quer de mim? Eu deverei perguntar o que o amor quer de mim? O que o amor está me pedindo? Em que direção, a que atitude este amor está me conduzindo? Escutar esta vontade do amor dentro de mim.

E às vezes acontecem conflitos entre a vontade do meu ego, a vontade minha, limitada e a vontade incondicional.

Jesus disse, no momento da vontade humana: “Afasta de mim este cálice Pai”. Jesus não queria sofrer e isto é uma saúde boa. Jesus não era masoquista, assim como cada um de nós. Se estivermos com saúde psíquica a gente não quer sofrer.

Mas em certo momento a gente não pode evitar. Queiramos ou não, nós vamos fazer esta experiência. É o momento de fazer um acordo da nossa vontade com uma vontade mais alta que contém o bom e o mal. A vida e a morte. É por esta razão que Jesus diz não. “Não mais minha vontade seja feita, mas a Sua vontade”.

É a vontade daquele que chega e diz: Eu fiz tudo para me curar e não há mais nada que eu possa fazer, então que seja feito o que deve fazer. E o homem entra em contato com a sua transcendência. Passa de uma vida de submissão para uma vida de escolha. Da terra de escravidão para a terra da liberdade. Isto passa pelo exercício da nossa vontade, da nossa aquiescência. Não só eu devo submeter-me aquilo que está chegando para mim, mas eu posso desposar aquilo que está vindo para mim.

Eu passo a deixar de ser objeto para ser sujeito da circunstância.

No nível humano a gente não compreende o que está chegando para nós. Este é o momento de abrir a consciência para uma consciência mais elevada, mais ampla, para a presença de Deus em nós.

Fazer de todas as coisas um momento de consciência e amor. Eu posso fazer de todas as coisas, uma ocasião de crescer. E esta é vontade de Deus. A vontade de Deus no interior de uma semente de carvalho, é de tornar-se um carvalho. A vontade de Deus sobre o nós, é aquilo que trazemos dentro do código genético. Obedecer a vontade de Deus é obedecer a esta seiva que está dentro de nós e que sobe em direção à Luz. É a vontade do vivente. É a vontade do amor que está em nós.

Pergunta: - O que significa comunhão?

Quando sentimos a presença de alguém muito querido, esse é um estado de comunhão.

Podemos estar em comunhão com todos, na comunhão dos santos no nível familiar e em outros níveis.

E nós podemos nos sentir em comunhão como S. Francisco de Assis: quando se olha um pássaro e o nosso coração se alarga. Neste momento, pensamos da mesma maneira como pensava S. Francisco e entramos em comunhão com Ele. No nosso campo vibratório, nos colocamos em harmonia com esta pessoa e sentimos esta presença.

Há também uma comunhão dos santos no sentido teológico, espiritual e cósmico. Sentimos uma comunhão com o espírito da montanha, que se revela a nós como um ser vivo. Podemos viver a comunhão do espírito na natureza. Na missa ocorre a comunhão com Aquele que manifestou no tempo, a santidade do amor. O momento da comunhão é entrar num nível de consciência, na qualidade de presença, que é o próprio Cristo.

O corpo e o sangue, simboliza a ação e a contemplação. Viver o vinho consagrado, é ser chamado a se tornar o que Ele é. O sangue que é a vida íntima do ser humano. O vinho e o sangue simbolizam a contemplação. Somos chamados a viver a vida de Jesus na contemplação: comunhão com tudo que há, com o visível e o invisível. A comunhão dos santos é a abertura de coração no nível mais vasto de comunhão.

Pergunta - Como compreender o desejo na concepção do desapego budista?

Será que é possível conhecer um desejo sem apego?

Desejar alguém sem se tornar dependente dele, e lá você se sentir bem.

Freqüentemente se confunde o desejo com a necessidade e com a demanda.

Desejar alguém é desejar sua liberdade. É amá-lo em sua diferença e alteridade. De outra maneira não será o desejo, será a fome. Neste caso não há o desejo e sim, necessidade. Buda tinha desejo de ser livre em relação ao desejo, e o desejo de bem estar em relação a todos os seres vivos. Aí estamos no mais elevado desejo.

Tanto por trás da palavra amor como da palavra desejo, colocamos realidades diferentes. Inicialmente há o desejo do amor da criança pela sua mãe. Este amor, em grego é chamado de PORNÉIA. Esta palavra pode chocar, mas o amor da criança é o amor que procura consumir o outro para se nutrir. Ela tem necessidade de se nutrir para crescer.

Mas isto não é belo quando se encontra num bebê de 50 anos, que procura ainda consumir o outro.

Há ainda o amor que se chama EROS, o amor sagrado, o desejo da beleza.

Segundo Platão, a beleza de um corpo humano, desperta em nós a beleza do que anima esse corpo, a beleza da alma, que evoca em nós o desejo da beleza absoluta. O desejo da beleza absoluta em grego chama-se de Eros – e significa o homem que tem asas. A sexualidade e a libido orientada para o absoluto.

Existe também FILIA, amor no sentido da amizade. O amor-troca. Você me dá e eu lhe dou, a vida é uma troca. É o desejo esta troca de dois seres iguais, que partilham seus pensamentos e seus desejos. Podemos também ter o desejo da harmonia, de respirar em conjunto o sopro comum.

Finalmente temos o amor ÁGAPE, o amor do dom – não é o amor que acaba com a minha sede – não nasce na sede, não nasce da fome, não é o amor da carência. É o amor da plenitude, é quando se fala do amor de Deus. É o amor gratuito e incondicional - no budismo isto se chamará compaixão. É a qualidade do amor que deseja o bem estar de todos os seres vivos. Desejo da paz, da harmonia, o desejo do bem estar de todos. É um desejo sem apego. A flor dá o perfume, quer se respire, quer não se respire. O sol dá a luz quer abramos ou não a janela. E nós encontramos a palavra de Jesus: “Tenha o sol em vocês, o sol que brilha sobre os puros e impuros”. Esta palavra de Jesus, seis séculos antes do seu nascimento, foi a última palavra de Buda: “Tenha uma luz em vocês mesmos”. Tenha compaixão dentro de você. Isto escutado é a vontade de Deus. Deixe ser a qualidade do amor. Para o seu bem estar e bem estar de todos os seres vivos.

Pergunta - Como entender o sofrimento, as dúvidas de Santa Tereza Dávila, no “Seja feita a vossa vontade” ? Como situar o livre arbítrio nesta frase “Seja feita a nossa vontade”?.

O que pode existir entre o nosso desejo de prazer e a vontade de Deus?

Para Aristóteles e S. Tomás de Aquino, o prazer é o sinal de que uma coisa é bem feita. É sinal de que alguma coisa foi terminada, realizada.

Desta maneira o prazer é o sinal de que a vontade de deus foi feita. Para os antigos, o prazer é algo de santo, é algo sagrado, é o sinal de que a vida foi conduzida até o seu fim.

E isto se pode observar quando se faz muito bem o que se tinha de fazer: se tem vontade de agradecer .

O prazer é um sinal da presença de Deus.

O prazer é a participação sensível à beatitude.

A felicidade é uma participação psíquica à beatitude.

Alegria é uma participação noética à beatitude.

O prazer, a alegria, e a felicidade, mesmo se na nossa existência são transitórios e passageiros, devem ser considerados como prova da presença de Deus.

Quando Tereza D’Ávila vivia sem alegria e felicidade, ela sentia vontade de se confessar. É como se Deus não estivesse na sua presença.

Porque não somos felizes?

Por que as vezes somos tomados por dúvida e tristeza?

Porquê do sofrimento?

O problema de Tereza é também o nosso. O sofrimento pode ser uma ocasião de consciência, tudo o que nos acontece pode ser uma ocasião para crescermos. Se nós concordamos a nossa vontade com isto, há em nós a possibilidade de fazer com o que nos acontece, uma ocasião de consciência.

Nós podemos também entrar na revolta e fazer desse sofrimento uma ocasião de revolta, regressão e desespero. E assim nós vemos a importância do livre arbítrio.

O livre arbítrio é muito condicionado pela infância, família, religião, clima, sociedade, cultura. E alguns dirão que não têm liberdade, que é o mecanismo de repetição que o carrega. É o nosso passado que nos manipula.

O que se diz, no Evangelho e nas grandes tradições espirituais é que nós não somos totalmente condicionados. O homem é uma mistura de aventura e natureza. Não é da nossa culpa se somos feitos de mármore ou de barro; não é de nossa culpa se recebemos um código genético, todo esse condicionamento, essa matéria. O que depende de nós, é o que podemos fazer essa matéria: uma Vênus de Milo ou um martelo. É a introdução da energia na matéria. É a ação da nossa liberdade. A mesma coisa com esta matéria difícil que se chama sofrimento. Podemos fazer infelicidade, juntar sofrimento ao sofrimento, por nossos pensamentos, por nossa maneira de ver o que acontece conosco, mais sofrimento ao que nos acontece. Não somente nos deixamos carregar pelo sofrimento e também juntamos sofrimento ao sofrimento: com esta doença que vem pra nós, com esta ruptura; quer o sofrimento esteja em nível físico ou psíquico, podemos fazer dele uma situação de crescimento. E fazemos a vontade de Deus. Podemos transformar os conflitos em elementos de crescimento.

A vontade de Deus é a vontade do amor em nós, que a partir dessa doença pode nos levar a um a processo de individuação.

Num Hospital de doentes terminais, fiquei surpreso de ver que, com os mesmos sintomas, o mesmo diagnóstico, o mesmo nível de câncer, de acordo com a maneira que as pessoas vivem a doença, ela evolui diferentemente. A maneira de viver a doença tem o poder de transformação, e esse é o exercício da nossa liberdade.

E aqui lembro a experiência de Jesus, de apelar para a vontade de Deus. É passar de uma vida submissa para uma vida escolhida. Eu não escolho a doença que tenho, mas posso escolher fazer desta doença uma vida de consciência.

Que não seja a minha vontade feita , mas a Tua vontade. O que me acontece pode ser que eu não tenha desejado. Posso até querer fugir do sofrimento, mas o sofrimento está lá. Como transformá-lo? Concordando com a vontade dAquele que É, introduzindo a consciência do amor, que neste momento se revela maior que a doença . Maior que a provação.

Mas não estamos neste nível. E a questão que é colocada sobre todas as provações que ponteiam a nossa existência.

Que forma nós daremos a tudo isto?

O que me toca muito é que nada é perdido, com tudo podemos fazer luz, mesmo com nossos fracassos. O que a história nos diz senão a história do fracasso, do ensino, do amor de todos os seres e que não foi reconhecido. Jesus transformou este fracasso em via de ressurreição. Não vemos o fracasso, mas às vezes podemos perceber que este fracasso pode ser a melhor chance. Através do fracasso somos libertados das ilusões a respeito de nós mesmos. E podemos transformar o fracasso no caminho de realização. Podemos ver em nossa vida todos as provações e fazer uma oportunidade. E podemos fazer que na nossa vida, a vontade do amor se realize.

“Sois Deuses. O que eu fiz, vós também podeis fazer”.

Pergunta - O que é ser Deus?

E’ uma palavra que pode nutrir a nossa paranóia e nossa megalomania. Tem muita gente achando que é o Cristo.

Um homem, uma vez, me olhou e perguntou: - Você sabe quem eu sou? E respondi: - Me falaram que você é o Cristo. E eu quero dizer para você que eu também sou. Então começamos um pequeno curso de teologia, onde pelo batismo somos chamadas a ser filho de Deus. Lá onde eu estou eu quero que vocês estejam, também.- Jesus disse.

Algumas mulheres podem ser tomadas pelo arquétipo da grande mãe o que torna para sua criança algo difícil. Porque essa mulher pode imaginar que a sua criança não pode ser feliz sem ela. A inflação é uma patologia, um sofrimento.

São Paulo disse: “Não sou eu que vivo, é o Cristo que vive em mim”. Não é para se tomar pelo Cristo. É preciso deixar o Cristo ser, dentro de nós. É preciso deixar ficar em nós a qualidade que o Cristo encarnou. A qualidade de consciência, de paciência e de amor. Não é para se tomar pelo Cristo, mas deixar a Sua vida ficar e Ser em nós. Não é para se tomar por Deus, mas deixar ficar em nós o amor incondicional.

Na experiência da paternidade que teve Davi, neste momento ele ama o filho, mesmo que seu filho queira destruí-lo. Portanto somos chamados a participar desta vida. A participar da vida que o Cristo encarnou.

Mas isto não deverá nos conduzir a nos acharmos seres extraordinários. Diz Jesus: “Eu sou manso e humilde de coração. Aprenda de mim como ser Deus”. Queríamos que o Cristo nos ensinasse a andar sobre as águas e fazer milagres a fim de que todos nos tomássemos por Deus.

Tornar-se Deus é se tornar cada vez mais humilde, é entrar na qualidade de doçura e mansidão e comungar com a vida.

Será que é isso o que nos atrai, o que nos inspira, será que isto nos excita?

Ou será que isto nos acalma?

Isto nos leva a um estado de exaltação ou ao estado de simplicidade?

Tudo relativo à vida de Deus é cada vez mais simples.

O profeta Elias procurava a experiência de Deus e tinha na frente dele um grande furação. Deus não está no furacão. E em seguida houve um terremoto. Deus não está no terremoto. Ao final, houve um silêncio de uma pequena brisa; ele volta a entrar na gruta e reconhece Deus nesse ligeiro sopro.

Algumas vezes na nossa vida tem terremotos.A nossa existência é colocada em questão e Deus está presente lá, talvez no que tem de mais sutil.

Alguns de nós vive experiências extraordinárias, mas não são experiências profundas.

Hoje se confunde a experiência psíquica com a espiritual. A espiritual nos aproxima do silêncio e da brisa sutil.

Tornar-se Deus é estar junto da brisa leve que nos habita, que nos tornará doce e humilde de coração: o Cristo que era Ele mesmo, a imagem da grande vida. Que silenciosamente anima todas as coisas.

Escuta-se o barulho do carvalho que se abate e não se escuta o barulho da floresta que cresce. Deus está no barulho da floresta que cresce. Neste silêncio que nos faz crescer e que cada dia nos ensina a amar, na humildade, no respeito e na doçura.

DAI-NOS O PÃO NOSSO DE CADA DIA

Se nós olharmos para o texto aramaico, hebreu e grego, não se trata de pão. Pão é a partir da tradução latina de São Jerônimo, que fala do pão cotidiano.

“Artós”, como no texto hebreu é a palavra (?) que significa simplesmente alimento.

Então trata de se perguntar: O que me alimenta?

O que realmente me alimenta não apenas no nível corporal, mas no nível psíquico?

Porque o que Cristo está pedindo, o que ele deseja, não é apenas o alimento cotidiano, mas sim o alimento essencial e nesse sentido as palavras são muito precisas. Tanto em Mateus como Lucas, trata-se da palavra que quer dizer o alimento supersubstancial. Muitas vezes este sentido vem sendo esquecido na nossa tradição.

Os terapeutas do deserto diziam que não devemos esperar de Deus o pão cotidiano. Devemos ganhar com o suor do nosso rosto, é o fruto do nosso trabalho.

Não se deve trabalhar pelo alimento que perece, mas por aquele alimento que permanece na vida eterna.

S.João, no capítulo 6, diz: “Não trabalhe apenas pelo alimento que vai nutrir o teu corpo mas também para aquele que nutre a vida eterna”. Que não engorda o que vai morrer, mas que nutre o que não vai morrer nunca. Isto é o que se pede no Pai Nosso, é a nutrição em outro nível.

Diz o evangelho: “Os seus pais comeram o maná no deserto e eles morreram. O alimento que eu vou dar a vocês permanecerá em vida eterna”. Existem outras passagens a serem citadas. “Não vós inquieteis pela sua vida e pelo que tem de comer, mas buscai o reino do espírito e tudo lhe será dado por acréscimo”. Jesus não disse que a gente não tem necessidade de um alimento cotidiano, mas o ser humano não vive apenas do pão.

E essa palavra é dita ao diabo quando ele vem trocar as pedras em pão, ou seja, mostrar que se o ser humano tiver o que necessita, não haveria problemas, nem a necessidade de Deus. Como se o nosso desejo pudesse ser preenchido por objeto. Como se não existisse uma vida mais vasta que a fome de uma vida mortal. Não se trata de falar de espiritualidade para quem está com a barriga vazia. Os que têm fome devem ser alimentados. Jesus multiplicou os peixes e os pães para que cada um pudesse saciar sua fome.

Se compartilhar o que temos, vai ter para todo o mundo. O que Jesus nos lembra é que o homem não viva apenas de pão. Existe nele um desejo que não está nutrido pelas coisas materiais. Existe algo que deseja e que se alimenta de ternura, se alimenta de poesia e com a qualidade das nossas relações. Eu posso ter a barriga satisfeita, cheia, ter relações amigáveis, viver grandes amores, e mesmo assim ficar insatisfeito. É próprio do ser humano ter a insatisfação. É a lembrança do seu próprio corpo, de que ele é feito para uma realidade espiritual.

Nutrir o desejo pelo absoluto. O que a gente pede é o desejo essencial.

Dai-nos o pão nosso de cada dia. Em aramaico, dai-nos hoje o alimento de amanhã. Dai-nos de saborear hoje a existência finita, temporal; deixe-me saborear hoje, algo que não vai morrer. O sabor da eternidade.

Tudo está implícito na oração que Cristo falava e isto nos traz uma outra questão.

Será que a gente cuida não somente do nosso corpo, da nossa alma, do nosso psiquismo? Mas será que alimenta dentro de nós o ser espiritual?

Qual é o alimento do ser espiritual?

Não só o pão e o vinho; posso me nutrir de silêncio, luz, gratuidade.

É por este razão que nas nossas vidas, é muito importante que tenhamos momentos onde a gente não tenha nada para fazer ou dizer. Simplesmente estar ali e acolher o que a vida nos dá: o alimento essencial que fortifica dentro de nós o que eu sou. Que fortifica em nós a presença de Deus.

Se cada dia, nós tivermos momentos de fazer a refeição espiritual, nos nós sentiremos mais nutridos.

Existem também os momentos de estudo, de leitura, onde a gente vai alimentar a nossa inteligência, o encontro, a afetividade. Também deve haver, horários onde se alimenta a vida eterna.

Nutrir o ser essencial. Momentos de silêncio, de simplicidade, de uma simples presença. E às vezes falta apetite, e Jesus vem despertar o apetite pela transcendência. O desejo do essencial que deseja ser alimentado. Bom apetite.

ALMOÇO

Vamos abrir o espaço da escuta e repousar no instante.

Vamos definir o que se entende por cristianismo romano e paulinismo. Em sua origem, a igreja era uma comunidade ou uma comunhão de comunidades.

Havia a comunidade dos Efésios, em torno de S. João, a da Etioquia em torno de São Paulo, a de Roma, em torno de S. Pedro, a de Jerusalém, ao redor de São Tiago, e da Índia, em volta de S. Tomé; tratava-se de uma comunhão de igrejas. Cada uma das comunidades tinha seu texto particular, seus evangelhos, sua liturgia e seu ritual. Depois cada uma das igrejas ficaram estranhas, em relação às outras.

Em um certo momento a Igreja de Roma se separou da comunhão das outras igrejas, que foi o grande cisma em torno do ano de 1.014.

É preciso lembrar que temos um milênio de comunhão. Quando se trata da igreja ortodoxa, é a igreja na sua origem cristã.

A igreja de Roma, sob a influência de Carlos Magno, desenvolveu uma celebração de forma particular: o ritual romano; aqui no Brasil, é brasileiro. É uma maneira brasileira que está em comunhão com a Igreja de Roma, no evangelho, como a de Jerusalém, da Grécia, da Rússia. E assim a gente volta ao princípio do primeiro século.

Jesus foge quando querem faze-lo Deus. “Aquele que crê em mim não é em mim que ele crê, mas sim, Naquele que me criou”. O intuito de Jesus não era criar uma instituição, mas sim, plantar uma vontade de entrar em contato com a liberdade e a dignidade.

Paulo viveu uma experiência forte do Jesus ressuscitado, ele que anteriormente, em determinado momento perseguiu o povo judeu. Houve então no caso de Paulo uma conversão. Aquele que ele perseguia era o povo do mesmo Deus que ele acreditava. Paulo entendeu que é a fé que salva. Jesus nunca pediu que se acreditasse nele. Aquele que escuta a palavra sem colocar em prática é como construir a casa em areia. Jesus convida a transformação interior a partir de uma prática, que é o amor ao próximo. Jesus não diz como uma ordem - Você tem que amar. Se nos forçam a amar isto vai nos impedir de amar verdadeiramente. Jesus nos convida a amar.

Nós conhecemos as palavras de Jesus, mas não conhecemos a música. E a música tem a capacidade de transformar a palavra em nós, numa palavra de esperança.

Um dia você amará com toda a sua alma, todo o seu corpo. Não com o seu coração, mas com todo o seu ser.

Este é o grande exercício que Deus nos propôs. Aprender a amar por nada, livremente, gratuitamente. É isto que transforma o ser humano, transforma a sociedade, transforma a natureza e nossa relação com ela.

Para viver isto, não é preciso entrar numa instituição. Basta escutar o desejo que o espírito coloca no nosso coração, não é preciso de instituição.

Em toda a comunidade há homens e mulheres de santidade, do espírito de Cristo, mas há também manipuladores, que se servem da fraqueza das pessoas para desenvolver o seu poder, e isso é muito perigoso.

Eu penso em uma mensagem muito falada: - Fora da Igreja, não tem salvação.

De que Igreja falamos nós???

Há na Igreja, homens e mulheres cujo comportamento não está em conformidade com o espírito do Cristo. Têm outros que estão longe da Igreja, mas que colocam em prática as informações transmitidas por Jesus. Isto não é propriedade de uma Instituição particular.

As igrejas evangélicas seguem principalmente a orientação de S. Paulo.

Na Igreja de Pedro, se está principalmente na função de expressar sua fé comum. Na origem, a Igreja de Roma não tinha um poder particular sobre as outras igrejas. Jerusalém, sim, tinha uma certa proeminência, bem como a da Antioquia. Se Jesus escolheu o Apóstolo Pedro, não era porque era o mais forte, mais inteligente, mas porque era o mais frágil. Inclusive Pedro, o traiu. Isto é muito importante, porque os que têm o poder da comunidade, não é porque tem mérito ou qualidade, mas porque ele pode manifestar a graça de Deus.

Eu, Pedro, que persegui o povo de Deus, sou o escolhido. O povo de Israel foi escolhido, não por ser um povo especial, mas sim porque era um povo nômade, mas que tinha condições de manifestar o poder de Deus. O povo de Israel era o mais interesseiro, mais carnal e se ele foi escolhido, todos os outros podem ser escolhidos também.

Nós não somos escolhidos por nós, e sim pelos s outros.

A escolha se dá pelo poder de servir e não de dominar, e isto significa ser fiel ao próprio ensinamento de Cristo. Eu sou aquele que serve, dizia Jesus.

Há uma diferença entre homem de poder e homem de serviço.

O Papa deu um grande exemplo, quando pediu perdão aos ortodoxos. Perdão pela perseguição durante as cruzadas, pela inquisição, perdão aos judeus, e por todas as falsas utilizações do poder.

No cristianismo romano, tem os paulinistas e também têm muitos cristãos que estão em comunhão com outras igrejas.

Será que a religião que participo, me torna mais inteligente, me faz pensar por mim mesmo? Ou me faz pensar como um papagaio?

Será que a comunidade com a qual me encontro ela me torna mais inteligente e mais amorosa?

Ou me joga dentro do medo da contaminação e do medo daqueles que não pensam como a gente?

Esta instituição me fecha, me aprisiona, em um pequeno grupo? Como o único bom, ou o único a ser salvo?

Minha comunidade me torna mais livre?

Será que minha comunidade me torna mais simples, mais próximo do que Jesus ensinou e viveu?

Quer eu seja protestante, ou ortodoxo, ou que pertença a outro grupo, ou cristão, será que eu me torno mais humano, um ser humano cada vez mais inteiro?

Se nós queremos viver num mundo cada vez mais humano, nós temos que nos tornar mais humanos, e melhor ainda, tendo uma prática espiritual que nos ajude a nos tornarmos mais humanos.

Pergunta - Não é fácil realizar a vontade de Deus de nos libertarmos do passado, porque vivemos numa sociedade. Então o conflito se torna inevitável. Como encontrar o ponto de equilíbrio. Como evitar a guerra familiar?

Esta questão é interessante, porque ela mostra que a origem da guerra começa nas nossas famílias. Começa nos casais. E se pudermos colocar paz na nossa família, já é um bom começo. Isto pede uma maturidade.

É imaturidade considerar uma opinião contrária, como uma coisa que se opõe a nós. Freqüentemente, quando são coisas muito importantes, a gente sente como uma ameaça, uma opinião contrária.. Não é porque alguém pensa o contrário de mim, que eu não tenho direito de pensar o que penso.

Um sinal de maturidade é: não considere como oposto e sim como complementar, que na mesma família a maneira de amar de um, seja diferente da maneira de amar de outro. Madre Tereza ama diferente dos monges do Tibet, e do eremita que vive no monte Athos.

Marta e Maria estavam perto de Jesus. Marta se ocupava de colocar a mesa, enquanto que Maria estava sentada nos pés de Jesus. Chega um momento que Marta se irrita por estar trabalhando sozinha, enquanto a Maria está só contemplando.

Jesus disse: “Marta você se agita por muitas coisas desnecessárias, Maria escolheu a melhor parte e esta parte não lhe será tirada”. Marta recebeu uma bofetada. Jesus não reprova a Marta de trabalhar. O que ele diz a Marta é que ela se agita e se inquieta. Isto é um bom ensinamento para nós, porque algumas vezes, ficamos agitados pela nossa ação. Tomamos nossa inquietude como alguma coisa de eficaz.

Jesus reclama da agitação e inquietude. Isto é que nos impede de fazer bem o que devemos fazer.

Marta é vesga. Tem o olhar dirigido para duas coisas diferentes: tem um olho colocado sobre Jesus e um olho colocado sobre sua irmã . Perdeu a unidade do seu olhar.

É o que se chama o demônio da comparação. Eu sou melhor, ou sou pior. A comparação é algo que vem semear a separação e a divisão entre nós. Cada um é incomparável. Jesus lembra a Marta que só uma coisa é necessário. O que é necessário é amá-lo, quer seja através da ação ou da contemplação.

Marta e Maria em cada um de nós, são duas polaridades. Em certo momento o amor em nós nos convida ao serviço e a ação, e em outros momentos, ao silêncio e à contemplação ou ao estudo da palavra.

Trata-se de escolher e viver com o melhor de si mesmo. Viver com o melhor de si mesmo é que vai nos permitir viver em paz. Poder dizer ao outro o que eu penso, para mim é o melhor. O melhor pra você é outra coisa e eu respeito. Sua maneira de ser é o melhor para você mesmo.

No evangelho de S.João, é dito: “O verbo se fez carne”. A informação criadora, se faz carne em cada um de nós. Temos uma maneira única de encarnar a inteligência criadora. Uns são mais inteligentes com as mãos, outros com a palavra. Cada um tem uma maneira única de encarnar o amor. Uns são mais carnais e outros mais sensíveis, mais reflexivos.

Vamos respeitar a maneira de encarnar a vida de maneira diferente da minha. Eu reconheço nele, no outro, o que ele tem de melhor.

As religiões deveriam reconhecer o que as outras religiões têm de melhor.

As flores diferentes é que fazem o bouquê bonito.

Eu gosto que você pense diferente de mim. Esta diferença, não nos separa, se você vive com o melhor de si mesmo.

Isto supõe que se tenha ficado interiormente livre do apego. A paz entre nós é possível com a humildade. O outro tem uma parte da verdade que complementa a minha verdade, que enriquece a minha verdade e assim, poderemos viver em conjunto uma vida melhor.

Retomaremos o Pai Nosso.

Após haver reconhecido em nós a Fonte do Ser, e despertado em nós esse desejo, o seu nome, o seu amor, seja santificado.

Após ter despertado em nós o desejo de liberdade, e que reina em nós o espírito, onde nos tornamos mais independente, do nosso passado, do nosso inconsciente, e de todo esse determinismo que nos constitui.

Depois de abrir o nosso desejo para um desejo mais vasto, o desejo da vida por ela mesma, que é o desejo do amor, qual é a vontade de Deus?

Antes é preciso saber: - O que eu quero realmente?

Será que eu sei o que quero?

Se soubermos o que se quer realmente, na profundidade do nosso ser, a gente não estaria longe do que a gente chama a vontade de Deus. A vontade de Deus é o bem estar de todos os viventes.

Após identificarmos o que nutre em nós o sentimento da vida eterna, chegamos a palavra de Mateus:
 
 
Jean -Yves Leloup - O Pai Nosso - Uma Antropologia do Desejo
Postado por Norma Villares

terça-feira, 9 de abril de 2013

O ESPIRITISMO E A ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA


A alimentação vegetariana é um tema que vem cada vez mais sendo alvo de discussões no meio espírita. Vários são os livros - psicografados ou não - que fazem alguma alusão a isso e antagônicas são as posições tomadas por diferentes pessoas com relação ao assunto. Mas o que realmente diz a doutrina espírita?

Analisando o Livro dos Espíritos, temos a seguinte passagem:
723. A alimentação animal é, com relação ao homem, contrária à lei da Natureza?

Dada a vossa constituição física, a carne alimenta a carne, do contrário o homem perece. A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas forças e sua saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se alimentar conforme o reclame a sua organização.

Esse trecho serve de base aos espíritas que se colocam a favor de uma alimentação onde a carne tenha lugar garantido. Mas não há nada mais a ser considerado sobre a resposta acima? Por exemplo: quando foi escrita? Qual era a situação do homem em termos de conhecimentos nutricionais à época em comparação com os dias de hoje? Percebe-se claramente no trecho citado que é colocada a questão da necessidade: uma palavra de grande importância para se discutir o assunto.

O Livro dos Espíritos foi publicado há mais de 140 anos atrás. Muito o homem se desenvolveu cientificamente e tecnologicamente nesse intervalo de tempo. Hoje, por exemplos práticos e não por suposições teóricas, vê-se que a necessidade de comer carne não existe. É plenamente possível viver de forma saudável sem a sua ingestão. A despeito de várias publicações espíritas que se colocam a favor da alimentação vegetariana – psicografias de Chico Xavier junto a Emmanuele André Luiz, de Yvonne Pereira, dentre vários outros – muitos se prendem à questão 723 do Livro dos Espíritos para justificar suas posições contrárias a ela.

Vejamos alguns trechos dos livros O Consolador (Emmanuel – Chico Xavier) e Missionários da Luz (André Luiz – Chico Xavier):
A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes conseqüências, do qual derivaram numerosos vícios da nutrição humana.


É de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esse valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos.


Temos a considerar, porém, a máquina econômica do interesse e da harmonia coletiva, na qual tantos operários fabricam o seu pão cotidiano. Suas peças não podem ser destruídas de um dia para o outro, sem perigos graves.


Consolemo-nos com a visão do porvir, sendo justo trabalharmos, dedicadamente, pelo advento dos tempos novos em que os homens terrestres poderão dispensar da alimentação os despojos sangrentos de seus irmãos inferiores
.”

(Trecho do livro O Consolador, psicografado por Chico Xavier junto a Emmanuel)
* * *


A pretexto de buscar recursos protéicos, exterminávamos frangos e carneiros, leitões e cabritos incontáveis. Sugávamos os tecidos musculares, roíamos os ossos.

Não contentes em matar os pobres seres que nos pediam roteiros de progresso e valores educativos, para melhor atenderem a obra do Pai, dilatávamos os requintes da exploração milenária e infligíamos a muitos deles determinadas moléstias para que nos servissem ao paladar, com a máxima eficiência.

O suíno comum era localizado por nós, em regime de ceva, e o pobre animal, muita vez à custa de resíduos, devia criar para nosso uso, certas reservas de gordura, até que se prostrasse, de todo, ao peso de banhas doentias e abundantes.

Colocávamos gansos nas engordadeiras para que hipertrofiassem o fígado, de modo a obtermos pastas substanciosas destinadas a quitutes que ficaram famosos, despreocupados das faltas cometidas com a suposta vantagem de enriquecer valores culinários.

Em nada nos doía o quadro comovente das vacas-mães, em direção ao matadouro, para que nossas panelas transpirassem agradavelmente.

Encarecíamos, com toda a responsabilidade da ciência, a necessidade de proteínas e gorduras diversas, mas esquecíamos de que a nossa inteligência, tão fértil na descoberta de comodidade e conforto, teria recursos de encontrar novos elementos e meios de incentivar os suprimentos protéicos ao organismo, sem recorrer às indústrias da morte.

Esquecíamo-nos de que o aumento de laticínios para enriquecimento da alimentação constitui elevada tarefa, porque tempos virão, para a Humanidade terrestre, em que o estábulo, como o Lar, será também sagrado
.”

Não nos cabe condenar a ninguém. Abandonando as faixas de nosso primitivismo, devemos acordar a própria consciência para a responsabilidade coletiva.

A missão do superior é a de amparar o inferior e educá-lo. E os nossos abusos com a Natureza estão cristalizados em todos os países, há muitos séculos.

Não podemos renovar os sistemas econômicos dos povos de um momento para o outro, nem substituir os hábitos arraigados e viciosos de alimentação imprópria, de maneira repentina.

Refletem eles, igualmente, nossos erros multimilenários. Mas, na qualidade de filhos endividados para com Deus e a Natureza, devemos prosseguir no trabalho educativo, acordando os companheiros encarnados, mais experientes e esclarecidos, para a nova era em que os homens cultivarão o solo da Terra por amor e utilizar-se-ão dos animais, com espírito de respeito, educação e entendimento
.”

(Trechos do livro Missionários da Luz, psicografado por Chico Xavier junto a André Luiz)
É importante não existir o medo diante do novo. O próprio Allan Kardec, por várias vezes, colocou a importância da evolução das idéias. Não devemos pensar que tal evolução acabou na publicação de Obras Póstumas (último livro de sua autoria: uma coletânea de textos deixados por ele após sua morte física). A evolução continua. Quando surgem novas variáveis que permitam a análise de um ponto por novos prismas, assim deve ser feito. Aí está o caráter científico do Espiritismo se mantendo em equilíbrio com sua face religiosa, não permitindo que certos pontos sejam praticamente considerados como dogmas a serem aceitos.

Voltando à questão da necessidade de se comer carne, vejamos alguns fatos interessantes:

- Dave Scott é um triatleta de renome. Ele venceu o lendário Ironman no Hawaii, uma das provas mais extenuantes do planeta, por seis vezes (um recorde), entre os anos de 1980 e 1987. Esse triatlo consiste em 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida;

- Sixto Linares bateu o recorde mundial do triatlo de um dia nadando 7,72 km, pedalando por 297 km e então correndo por 86 km, sem intervalos, em 1985;

- Edwin Moses: medalhista de ouro em Olimpíada nos 400 metros com obstáculos. Passou oito anos sem uma única derrota nessa prova;

- Paavo Nurmi, o “Finlandês Voador”, conseguiu vinte recordes mundiais em corrida à distância e ganhou nove medalhas olímpicas;

- Bill Pickering estabeleceu um recorde mundial nadando no Canal da Mancha, mas a performance dessa ocasião foi pouco diante do fato de que com 48 anos, ele bateu um novo recorde mundial nadando no canal de Bristol.

O que há de comum entre as pessoas citadas acima? Todos são vegetarianos.

A situação atual apresenta diferenças muito favoráveis à alimentação vegetariana, aumentando consideravelmente as opções dessa dieta em comparação com outras épocas. Há hoje variedades vegetais com níveis produtivos mais altos, melhores processos de armazenamento e conservação, sistemas de distribuição mais eficazes. Além disso, o homem conhece mais sobre os mecanismos da digestão, as necessidades diárias alimentares e as propriedades dos alimentos. Uma dieta vegetariana bem planejada permite a qualquer pessoa viver com boa qualidade de nutrição. Isso pode ser afirmado por fatos.

Vendo-se, pelos últimos parágrafos, que na realidade a necessidade de se comer carne não existe para o homem atual, toda a questão deve ser analisada por um outro ponto de vista: é justo e correto sujeitar um animal aos sofrimentos (sim, por menor que seja a sua capacidade cognitiva, eles têm a capacidade de sofrer – fato inegável) de que é alvo e posteriormente à morte para satisfazer as preferências de nosso paladar?

O Espiritismo, em seu aspecto moral de bondade, amor e caridade em todas as relações, condena o excesso. A partir do momento que se comprova uma não-necessidade, tudo muda. A partir desse caráter moral da doutrina pode-se concluir com facilidade que a interrupção da matança que hoje é infligida aos animais será um dos passos dados pelo homem no futuro. Passo que não ocorrerá de um só instante, mas ao longo de um tempo, visto que mesmo hoje se vê o seu andamento.

Acompanhando-se a linha de evolução da humanidade, percebe-se que atualmente são considerados bárbaros – ou, no mínimo, errôneos - vários costumes tidos como absolutamente normais e corriqueiros em outras sociedades no passado: os sacrifícios animais e mesmo humanos, a escravidão, a poligamia e o canibalismo, dentre outros. Como disse Victor Hugo: “primeiro foi necessário civilizar o homem em relação ao próprio homem. Agora é necessário civilizar o homem em relação à natureza e aos animais”.

Um ponto importante que deve, no entanto, ser ressaltado é o pretenso nível de intangibilidade moral que alguns podem querer se colocar por terem uma dieta vegetariana. De nada adianta não comer carne, mas também não perdoar, não praticar a caridade, não ser paciente, dentre várias outras coisas de alto grau de importância que estabelecem um bom nível de caráter moral no ser humano.

Apenas cumpre ao homem não cometer excessos e comer para viver, ao contrário de viver para comer. A partir da constatação que o ser mais fraco sofre por uma desnecessidade, o ato de causar tal sofrimento torna-se fútil e repugnante.
Fonte: Retirado do site Saber Espirita
MARIA ELISETE SHALOM...

domingo, 7 de abril de 2013

Inspirando, Expirando... Eu floresço num jardim, sou suave como o orvalho.


 
 

Eu floresço num jardim,
sou suave como o orvalho.

Para ser feliz precisamos
Expirando


Eu floresço num jardim, sou suave como o orvalho.


Para ser feliz precisamos ter uma certa quantidade de frescor. Nosso frescor pode fazer outros felizes também. Somos realmente flores no jardim da humanidade. Precisamos apenas olhar para uma criança brincando ou dormindo e podemos ver que ela é uma flor. Seu rosto é uma flor, sua mão é uma flor, seus pés, seus lábios são flores. Nós também somos flores, assim como ela, mas talvez tenhamos permitido que as dificuldades da vida tenham pesado e perdemos muito do frescor.


O sábio vietnamita do século XVI Nguyen Binh escreveu:


Sem mais choro, sem mais reclamação.

Este é o último poema de preocupação.

Quando você para de reclamar, sua alma se refrescará.

Quando você parar de chorar, seus olhos ficarão claros novamente.


Por favor, inspire, relaxe seu corpo e dê a si mesmo um sorriso! As linhas de preocupação no seu rosto suavizarão e o sorriso nos seus lábios trará sua capacidade de ser flor novamente. Escultores através dos séculos fizeram grande esforço para retratar um sorriso fresco, de gentil compaixão nas faces de suas estátuas do Buda.


Na sua face existem dezenas de músculos e cada vez que fica preocupado, chateado ou com raiva estes músculos podem se tensionar ou contorcer. Outras pessoas podem ver isso e ficar com medo. Inspirando, você pode trazer sua consciência sem julgamentos para essas tensões, e expirando, pode relaxá-las um pouco e sorrir.


Inspirando, me vejo como uma flor

Expirando, eu me sinto refrescado.


Ao continuar, as tensões se dissolverão no fluxo e refluxo de sua respiração e você será capaz de restaurar o frescor da flor humana que está sempre presente, disponível dentro de você. Acalmando, relaxando e refrescando: estas são as práticas de “parar” na meditação Zen.


Eu sou sólido como a montanha


Não podemos ter paz e felicidade sem alguma estabilidade. Quando nosso corpo e mente são instáveis, ficamos agitados e insatisfeitos e outras pessoas não sentem que podem se refugiar ou confiar em nós. Portanto a prática de trazer estabilidade e solidez ao corpo e mente é essencial.


Ao inspirar plenamente consciente e sentar-se calmamente você pode restabelecer a solidez interna. Quando você senta seja na posição de lótus ou meio lótus, seu corpo e mente ficam estáveis, especialmente ao você reunificar seus cinco skandas através da respiração consciente. Os cinco skandhas são o corpo, os sentimentos, as percepções, as formações mentais e a consciência. Se você puder manter sua atenção focada na sua respiração, terá uma fundação firme para reconhecer, aceitar e abraçar tudo o que está acontecendo dentro de você.


Usando sua inteligência e sua compaixão, você será capaz de encontrar sua saída para qualquer dificuldade que surja na sua vida diária. Isto te dá grande confiança na sua capacidade, tornando você ainda mais sólido.


Inspirando, eu me vejo como uma montanha

Expirando, sinto-me estável e sólido.


Praticar o retorno e a tomada de refúgio na nossa ilha interior ajuda a gerar grande estabilidade. Você tem um caminho espiritual e sabe que está caminhando nele, portanto não tem mais nada a temer – e isso te ajuda a ser ainda mais sólido. Seu caminho é o caminho do desenvolvimento da plena atenção, concentração e insight – o caminho dos Cinco Treinamentos de Plena Atenção. Estes Cinco Treinamentos nos guiam em direção à proteção da vida, a compartilhar com aqueles que precisam, a evitar o engajamento em relações sexuais não saudáveis, a ouvir profundamente e usar a fala amorosa e a consumir conscientemente com compaixão pelo corpo e mente.


Sou espelho como a água


A imagem de uma piscina refletindo a luz representa uma mente tranqüila. Quando a mente não é perturbada por formações mentais como raiva, ciúmes, medo ou preocupações, ela está calma. Visualize um claro lago alpino refletindo nuvens, o céu e as montanhas ao redor tão perfeitamente que se você fotografasse sua superfície, todos pensariam que você havia tirado a foto da paisagem. Quando nossa mente está calma, reflete acuradamente, sem distorção. Respirar, sentar e andar com plena atenção acalma as formações mentais perturbadoras tais como a raiva, o medo e o desespero, nos permitindo ver a realidade mais claramente.


No Sutra da Plena Consciência da Respiração, um dos exercícios recomendados pelo Buda é chamado “acalmando formações mentais”. Nesse caso, formações mentais especificamente significa estados mentais negativos tais como ciúme, preocupação e assim por diante. “Inspirando, eu reconheço as formações mentais presentes em mim.” Quando chamamos as formações mentais vemos através de seus nomes: “Esta é irritação.”; “Esta é ansiedade”; e assim por diante. Não procuramos suprimi-los, julgá-los ou empurrá-los para longe. Simplesmente reconhecer sua presença é suficiente. Esta é a prática do simples reconhecimento; não agarramos nem tentamos nos livrar de nada do que passa pela nossa mente.


“Expirando, eu acalmo minhas formações mentais”. Ao respirar plenamente consciente enquanto reconhecemos e abraçamos as formações mentais, damos uma chance a elas de se acalmarem. Isto é similar ao exercício apresentado anteriormente para acalmar o corpo, isto é, relaxar as tensões e dor que existem no corpo, que também foi ensinado pelo Buda no Sutra da Plena Consciência da Respiração.


Você é um praticante de meditação, o que significa na verdade praticar olhar em profundidade e contemplar e não apenas aprender sobre o Zen com um objeto de estudo teórico ou intelectual. Portanto, você deveria se treinar para acalmar as formações mentais perturbadoras e as emoções quando elas se manifestam. Apenas desta maneira você será capaz de ser mestre de seu corpo e mente e evitar criar conflitos dentro de si mesmo, com seus amados e outros.


Alguns jovens são incapazes de lidar com as tempestades emocionais que surgem neles, como ira, depressão, desespero entre outras e por isso querem se matar. Estão convencidos que o suicídio é a única maneira de parar o seu sofrimento. Nos Estados Unidos, aproximadamente 9.500 jovens cometem suicídio a cada ano e a taxa é ainda maior no Japão. Parece que ninguém os está ensinando o caminho de lidar com suas emoções fortes.


Se pudermos mostrar-lhes o caminho para se acalmarem e libertá-los das garras do pensamento suicida, eles terão uma chance de voltarem e abraçarem a vida novamente. Mas precisamos aplicar a prática em nós mesmos antes que possamos tentar mostrar aos outros. Não esperamos até que estejamos devastados por alguma emoção para começarmos a praticar. Comece agora, de forma que na próxima vez que uma onda de emoção surja, você saiba como tomar conta dela.


Primeiramente, você precisa saber que uma emoção é apenas isso – uma emoção – mesmo que seja uma grande e forte emoção. Você é muito maior, bem maior que esta emoção. Nossa pessoa – o território de nossos cinco skandhas (corpo, sentimentos, percepções, formações mentais e consciência) é imenso. Emoções são apenas uma categoria das muitas diferentes formações mentais que temos. Elas vêm, ficam por um tempo, e depois vão. Porque deveríamos ter que morrer por uma emoção?


Olhe para emoções fortes como um tipo de tempestade. Se soubermos técnicas para resistirmos aos efeitos da água, poderemos sair intactos. Uma tempestade pode durar uma hora ou um dia. Se dominarmos os modos de nos acalmarmos e estabilizarmos nossa mente, poderemos atravessar as tempestades emocionais com relativa facilidade.


Sentando na posição de lótus ou deitando, comece respirando com sua barriga. Mantenha sua mente inteiramente na barriga enquanto ela sobe com cada inspiração e desce com cada expiração. Respire profundamente, mantendo atenção total ao seu abdômen. Não pense. Pare todas as suas ruminações e apenas foque na sua respiração.


Quando as árvores estão debaixo de uma tempestade, o cume fica oscilando e tem o maior risco de ser danificado. O tronco de uma árvore é mais estável e sólido. Ele tem muitas raízes alcançando as profundezas da Terra. Os cumes das árvores são como nossa mente, nossa mente pensante.


Quando uma tempestade surge em você, saia do cume e vá para o tronco por segurança. Suas raízes começam no seu abdômen, ligeiramente abaixo do umbigo, em um ponto de energia chamado como tan tien na medicina chinesa. Coloque toda a sua atenção nessa parte da barriga e respire profundamente. Não pense sobre nada e ficará seguro enquanto a tempestade de emoções estiver soprando. Pratique a cada dia por cinco minutos e depois de três semanas você será bem sucedido ao lidar com as emoções seja quando for que elas surjam.


Ao se ver passando pela tempestade sem se ferir, você ganhará mais confiança. Pode dizer a si mesmo, “Na próxima vez, se a tempestade de emoções voltar, não ficarei com medo ou tremerei porque sei como superá-la.” Pode ensinar isso para as crianças também, de forma que elas possam desfrutar do sentimento de segurança que a respiração da barriga dá a elas.


Tome a mão de seu filho e diga a ele para respirar com você, colocando toda a atenção no abdômen. Apesar de ser apenas uma criança, ele pode ter emoções fortes e pode aprender o caminho através delas. Primeiramente, ele precisará de sua assistência, mas depois ele poderá ser capaz de fazer sozinho. Se você é um professor, pode ensinar a respiração abdominal para os seus alunos. Se pelo menos alguns deles usarem a prática, depois, quando o redemoinho de emoções começar dentro deles, eles não serão levados a cometer suicídio, e você terá salvado vidas.


Praticar na posição sentada é melhor, mas você também pode praticar deitado. Se estiver nesta posição pode colocar uma garrafa de água quente no seu abdômen.


(Do livro “Peace is every breath” – Thich Nhat Hanh)
 
Maria Elisete Shalom...

Meditação sobre o amor

 
 
Esta é uma meditação sobre o amor adaptada do Visuddhimagga:

           
           Que eu possa eu estar em paz, feliz e leve de corpo e espírito.

Que ele/ela possa estar em paz, feliz e leve de corpo e espírito.

Que eles possam estar em paz, felizes e leves de corpo e espírito.


Que eu possa viver em segurança e livre de males.

Que ele/ela possa viver em segurança e livre de males.

Que eles possam viver em segurança e livres de males.


Que eu possa estar livre de raiva, aflições, medo e ansiedade.

Que ele/ela possa estar livre de raiva, aflições, medo e ansiedade.

Que eles possam estar livres de raiva, aflições, medo e ansiedade.


A prática da meditação sobre o amor deve ter início por nós mesmos ("eu"). Enquanto não formos capazes de nos amar e cuidar de nós, não podemos ser muito úteis para ninguém. Depois, podemos dedicar a prática a outras pessoas ("ele/ela”, "eles"): primeiro, a alguém de quem gostamos; depois, a alguém que nos é indiferente; em seguida, a quem amamos; e, finalmente, à pessoa cuja simples lembrança nos faz sofrer.


Iniciamos essa atividade examinando a fundo o skandha da forma, que é nosso corpo. De acordo com o Buda, o ser humano compõe-se de cinco skandhas (elementos, ou agregados): forma, sentimentos, percepções, formações mentais e consciência. Somos o rei, e esses elementos são nosso território. Para tomarmos conhecimento da real situação que há dentro de nós, devemos pesquisar minuciosamente nosso território, inclusive ver os elementos que estão em guerra uns contra os outros. Para criarmos harmonia e conciliação em nosso interior, tornando-o saudável, devemos compreender a nós mesmos. A meditação sobre o amor começa quando passamos a observar e escutar cuidadosamente enquanto pesquisamos nosso território.


De início perguntamos: como está meu corpo neste momento? Como estava no passado? Como estará no futuro? Mais tarde, ao praticarmos a meditação sobre alguém de quem gostamos, alguém indiferente, alguém que amamos e alguém que odiamos, também começaremos vendo os aspectos físicos. Inspirando e expirando, visualizamos seu rosto, seu jeito de caminhar, sentar-se e conversar; seu coração, pulmões, rins e todos os órgãos do corpo, detendo-nos o tempo necessário para que esses detalhes se manifestem na consciência. Mas sempre devemos começar por nós mesmos. Quando enxergamos com clareza nossos cinco skandhas, a compreensão e o amor surgem de modo natural, e ficamos sabendo o que fazer e o que não fazer para cuidarmos melhor de nós mesmos.


Verificamos se nosso corpo está em equilíbrio ou se está sofrendo de alguma doença. Analisamos as condições dos pulmões, do coração, do intestino, dos rins e do fígado, tomando conhecimento das suas necessidades reais. Isso nos leva a comer, beber e agir de uma forma que demonstra amor e compaixão pelo nosso corpo. Em geral, nos limitamos a seguir hábitos arraigados. Mas, quando pensamos bem, constatamos que muitos desses condicionamentos prejudicam o corpo e a mente, e é nesse momento que nos dispomos a trabalhar para transformá-los com o objetivo de obter saúde e vitalidade.


Em seguida, passamos a observar nossos sentimentos - tanto os agradáveis quanto os desagradáveis ou neutros. Os sentimentos fluem em nós como um rio, e cada um deles é uma gota d'água. Olhamos com muita atenção para esse rio, vendo como cada um dos sentimentos surge. Pensamos naqueles que até agora nos impediram de ser felizes e fazemos o melhor possível para transformá-los. Praticamos entrando em contato com os elementos maravilhosos, renovadores e curativos que já existem em nós e no mundo. Dessa forma, ficamos mais fortes e aumentamos a capacidade de nos amar e de amar os outros.


Depois começamos uma meditação sobre nossas percepções. O Buda fez a seguinte observação: ''A pessoa que mais sofre neste mundo é a que tem muitas percepções errôneas... E a maioria das nossas percepções é errônea." Vemos uma cobra no escuro e entramos em pânico; mas, quando um amigo acende a luz, descobrimos que é apenas uma corda. Precisamos saber quais são as percepções errôneas que nos fazem sofrer. Devemos escrever a frase "Você tem certeza?" em um pedaço de papel e pregá-lo na parede. A meditação sobre o amor nos ensina a enxergar com clareza e serenidade, a fim de melhorarmos nossa percepção.


Prosseguindo, devemos observar nossas formações mentais, as idéias e tendências existentes dentro de nós que nos levam a falar e agir de determinada maneira. Praticamos analisando intensamente para descobrir a verdadeira natureza das nossas formações mentais - como somos influenciados por nossa consciência individual e também pela consciência coletiva da família, dos nossos ancestrais e da sociedade. Formações mentais perniciosas causam muita perturbação, enquanto as que são saudáveis geram amor, felicidade e libertação.


Finalmente, examinamos nossa consciência. Segundo o budismo, a consciência assemelha-se a um campo onde se encontram todos os tipos de sementes possíveis - sementes de amor, compaixão, alegria e equanimidade; sementes de raiva, medo e ansiedade; além de sementes de atenção plena. A consciência é o depósito que contém todas essas sementes, tudo o que é possível surgir na nossa mente. Quando a mente não está em paz, a causa pode estar nos desejos e sentimentos que se encontram na nossa consciência armazenadora. Para vivermos em paz, temos que estar conscientes das nossas tendências - as energias do hábito - e dessa forma exercitar o autocontrole. Essa é a prática dos cuidados preventivos com a saúde. Analisamos profundamente a natureza dos nossos sentimentos para descobrir suas raízes e identificar os que precisam ser transformados e nutrir os que proporcionam paz, alegria e bem-estar.


Certo dia, o rei Prasenajit, de Koshala, perguntou à rainha Mallika:

- Minha querida esposa, existe alguém que a ame tanto quanto eu?

A rainha sorriu e respondeu:

- Meu querido esposo, existe alguém que o ame mais do que você mesmo?"


No dia seguinte contaram ao Buda a conversa que tiveram, e ele disse: "Vocês estão certos. Não existe ninguém no universo de quem gostemos mais do que de nós mesmos. A mente pode viajar em milhares de direções, mas não encontrará ninguém mais amado. No momento em que vemos o quanto é importante amar a nós mesmos, deixamos de causar sofrimento às pessoas.”


O rei Prasenajit e o Buda tornaram-se muito amigos. Um dia, quando estavam sentados em Jeta Grove, o rei disse ao Buda:

- Mestre, há pessoas que pensam que se amam, mas que constantemente se prejudicam por meio de seus próprios pensamentos, palavras e ações. São as piores inimigas de si mesmas.

O Buda concordou:

- As pessoas que se ferem por meio de seus pensamentos, palavras e ações são, na verdade, as piores inimigas de si mesmas. Elas causam seu próprio sofrimento.


Em geral, acreditamos que a causa do nosso sofrimento está nos outros - nos pais, no parceiro ou na parceira, nos inimigos. No entanto, por esquecimento, raiva ou ciúme, dizemos ou fazemos coisas que causam dor a nós e aos outros. Em outra ocasião, o Buda disse ao rei Prasenajit: "As pessoas costumam pensar que se amam. Mas, por não terem a atenção plena, dizem e fazem coisas que lhes trazem sofrimento.” Quando descobrimos essa verdade, deixamos de culpar os outros por nossa dor. A partir desse momento, procuramos nos amar e cuidar de nós mesmos, nutrindo nosso corpo e nossa mente.


Para praticar a meditação do Visuddhimagga sobre o amor, devemos nos sentar tranqüilamente e acalmar o corpo e a respiração recitando: "Que eu possa estar em paz, feliz e leve de corpo e espírito. Que eu possa viver em segurança e livre de males. Que eu possa estar livre de raiva, aflições, medo e ansiedade." A posição sentada é maravilhosa para essa prática. Quando sentados quietamente, não ficamos tão preocupados com outros assuntos e assim podemos ver profundamente como somos, cultivar o amor por nós mesmos e determinar a melhor maneira de expressar esse sentimento no mundo.


A prática começa com uma aspiração: "Que eu possa ser...” Depois, transcendemos o nível de aspiração e examinamos profundamente todas as características positivas e negativas do objeto da nossa meditação, que, neste caso, somos nós mesmos. Essa vontade de amar ainda não é amor. Nós nos empenhamos intensamente, com todo o nosso ser, para compreender. Não nos limitamos a repetir palavras nem a imitar os outros e, tampouco, a lutar em busca de um ideal. A prática da meditação sobre o amor não é auto-sugestão. Não basta dizermos "Amo a mim mesmo. Amo todos os seres': Se observarmos profundamente nosso corpo, nossos sentimentos, nossas percepções, nossas formações mentais e nossa consciência, em poucas semanas a aspiração ao amor começará a se transformar em uma profunda intenção. O amor vai penetrar em nossos pensamentos, palavras e ações, e perceberemos que estamos ficando em paz, felizes e leves de corpo e espírito; que vivemos em segurança e livres de males; e livres de raiva, aflições, medo e ansiedade.


Quando estivermos nos dedicando a essa prática, devemos observar quanta paz, felicidade e suavidade já conseguimos. Temos que perceber se estamos preocupados com acidentes ou com falta de sorte, além de identificar o quanto de raiva, irritação, medo, ansiedade ou preocupação ainda existe dentro de nós. À medida que nos conscientizamos dos sentimentos que abrigamos, nosso auto conhecimento se aprofunda. Descobrimos então como os medos e a falta de paz contribuem para a infelicidade e percebemos o valor de nos amarmos e cultivarmos um coração compassivo. Em vez de sentirmos um medo generalizado de acidentes, temos que observar como nos ferimos o tempo todo e tomar as medidas necessárias para minimizar a doença e os males.


Precisamos observar profundamente, não só enquanto estamos na almofada de meditação, mas onde quer que estejamos e independentemente do que estejamos fazendo. Vivermos com atenção plena é a melhor maneira de evitar acidentes e nos proteger. Precisamos reconhecer nosso intenso desejo de viver em paz e em segurança, de ter o apoio de que necessitamos e praticar a atenção plena. Talvez seja útil anotarmos algumas das nossas observações e insights. Segundo o Buda, quando compreendermos que aqui na Terra somos as pessoas mais preciosas para nós mesmos e das quais somos mais próximos, deixaremos de nos tratar como inimigos. Essa prática dissolve qualquer desejo que possamos ter de causar mágoas a nós e aos outros também.


"Que eu possa estar livre de raiva, aflições, medo e ansiedade” A raiva é um mal que afeta todas as pessoas, inclusive nós mesmos. Quando nos deixamos dominar por esse sentimento, a paz e a felicidade desaparecem. A vida de algumas pessoas é consumida pela raiva. Basta que alguém esbarre nelas para que fiquem furiosas. Isso se deve às circunstâncias ou às sementes de raiva que vivem nesses indivíduos? Temos que observar bem a fundo nossas sementes de raiva e olhar atentamente para aqueles que acreditamos nos terem causado sofrimento. A meditação sobre o amor nos ajuda a compreender essas duas coisas e a abandonar os padrões de pensamento e ação habituais que criam mais dor. Vemos que a pessoa que nos feriu também está sofrendo muito. Contemplar seu sofrimento gera entendimento e amor dentro de nós, e essas energias tornam a cura possível. Quando nosso coração está aberto, o sofrimento logo diminui. A prática da meditação sobre o amor nos liberta das nossas aflições.

 
(Do Livro – Ensinamentos sobre o amor – Thich Nhat Hanh)
 
Maria Elisete SHALOM...
 

terça-feira, 2 de abril de 2013

Oração - Doce Nome de Jesus...





 
"Doce nome de Jesus
Doce nome de Maria
Enviai-nos Vossa Paz
Vossa Luz e Alegria...

... Estrela Azul do dharma
Farol do nosso dever
Livrai-nos do mal Karma
Ensina-nos a viver..."

(Chandra Lacombe)

 



sexta-feira, 29 de março de 2013

Aniversário de kwan yin 30 Março 2013

 


Esta data é considerada muito especial, pois devido à grande quantidade de pessoas sintonizando-se com Kuan Yin, acredita-se que sua influência e seus poderes de auxílio sejam potencializados nestes dias.
Kwan Yin, na China, Kannon no Japão e Tcherezing no Tibet, a protetora dos lares e deusa da compaixão, da cura, da bondade e da felicidade.
Kwan Yin é um “bodhisattwa”.
Seu nome significa “aquela que ouve o choro do mundo”, atendendo a cada oração que lhe é enviada.
Ao pronunciar-se seu nome, alcança-se alívio para as dores físicas e morais. Seus seguidores não comem carne e não praticam nenhum ato de violência, vivendo de forma harmônica, fazendo caridade.
As estátuas de Kwan Yin representam-na segundo galhos de salgueiro ou coberta de jóias; seus gestos são de generosidade e banimento dos medos e dificuldades. As pessoas usam suas estatuetas para meditação, repetindo constantemente seu nome para atrair seus dons de paz e compaixão.

Todo ano, neste dia, Kuan Yin ( a poderosa deusa chinesa da cura piedade, compaixão e perdão) é invocada para proteção, amor , piedade e sabedoria.
Oferendas de incenso e velas cor de violeta são colocadas em seu altar, com pedaços enrolados de papel de arroz nos quais se escrevem desejos variados.
Mestra Kwan Yin, também conhecida como Deusa da Misericórdia, representa a grande força da Mãe Universal no Oriente - assim como Mãe Maria, no Ocidente.
(retirado da net , autoria desconhecida)
Recite o Grande Mantra da Compaixão

sexta-feira, 22 de março de 2013

Prece de Amor




Prece de Amor (Emmanuel) adaptada e Cantada por Elizabete Lacerda . 

Prece de Amor




Prece de Amor (Emmanuel) adaptada e Cantada por Elizabete Lacerda . 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Sobre a Mente intuitiva.... A Mente do coração...



Muitas vezes um pensamento rápido como um relâmpago tem mais valor que uma reflexão demorada....

As pessoas acham que grandes reflexões são a profundidade da compreensão e não entendem que o pensamento instântaneo pode evidenciar uma influência superior...


Os pensamentos longos e muitos reflectidos estão revestidos da densidade terrena... cheios de duvidas do campo inconsciente do medo... necessitam de validação de segurança...


Porém num pensamento instântaneo têm mais dificuldade de validar a origem... mas a sua velocidade é tal, que não conseguem compreendê-lo totalmente e como tal recusam a mensagem...


Na verdade só poderemos percebê-las com o Coração...
A maioria das pessoas desconhece a origem dos acontecimentos... não conseguem perceber o ponto de origem em si... e só tentam compreender os efeitos que produziram...


Um Coração sensivel tremerá no próprio começo de um acontecimento... talvez não possam encontrar palavras adequadas para descrever o que estão "vendo" o que logo instântaneamente sentem de Verdade... pois a compreensão nasce logo a partir do Coração...


Quase todos sentem esse chamamento do Coração perante o momento... e logo ai entra a tentativa de compreender como buscar a Paz...


Todavia à os que procuram a Paz interior na refleção egoísta e falsa modéstia, acreditando que conseguirão a Paz interior sem fazer nada...
Que Paz pode advir da inércia?...


A Paz interior vem da voz instântanea do coração, onde todas as energias são intensificadas pelo sentir ... então o pensamento rápido vem do sentir presente...


As centelhas da Inteligência Superior nos penetram como relâmpagos ... abençoados aqueles que sabem mantê-las em seu coração...
Ruth Fairfield

Maria Elisete Shalom...

sexta-feira, 15 de março de 2013

quinta-feira, 14 de março de 2013

Por que não consigo meditar?



Porque não consigo meditar?
Alguns me fizeram essa mesma pergunta, hoje quero refletir com vocês sobre isso.

Aqui no Ocidente, sempre tivemos o conceito de meditação ligado a concentração. Quando digo: "Vou meditar sobre isso", vejam que existe alguma coisa, em que preciso focar, refletir...existe o "sobre isso", ou seja, uma coisa...

Durante muito tempo tivemos esta referência de que meditar era pensar, refletir.
Mas a verdadeira meditação como nos ensinam os orientais, é simplesmente observar.

Observar o que for, seja como for. Observar a sua volta, observar seus gestos, observar sua respiração, observar os pensamentos que vem, observar as sensações que passam, observar detalhes a sua volta...observar...simplesmente...

Quem não sabe observar?
Nós nascemos observadores. Um recém-nascido observa. Os animais também observam.
Observar não é um ato, nem precisa ser aprendido, é inato. É um estado natural, observação é nossa natureza mais básica, mais simples, mais natural.

Meditação é Observação.
Nossa mente vai aos poucos se tornando tão tagarela, que encobre sem percebermos, a nossa simples capacidade de observar. Passamos a colocar tantos adjetivos naquilo que observamos, que nos envolvemos tanto com esses conceitos mentais, e aquilo que estamos observando ( a realidade!) fica tão distorcida por causa de tantos pensamentos que encobrem aquilo que é, ali na nossa frente.

É por isso que os mestres orientais nos dizem que meditação não se faz, meditação se é. Porque não é um fazer, se fosse nós não nasceríamos observadores ( meditadores) , teríamos que aprender, logo, seria mais um fazer, uma ação. E meditar é justamente um não-fazer, mas SER. Simplesmente se É. E o simples Ser já é meditação, já é observação.

Curioso é que nossa mente começa a funcionar por volta dos 2-3 anos de idade, ou até antes, e nunca para até que nós morremos. Isso é uma canseira só rsrs.
A mente só descansa quando dormimos, ou melhor, quando conseguimos dormir rsrs

Claro, a mente fica tão ativa durante o dia, pensando mil coisas ao mesmo tempo, que a noite é impossível que ela simplesmente desligue e você tenha uma noite de sono maravilhosa.

Ela continua trabalhando a noite, e você sonha muito a noite toda, e acorda cansado pela manhã, e já começa de novo no mesmo ritmo de antes...isso é stressante, é desgastante e isso causa fadiga mental...embotamento, envelhecimento...

Nossa mente precisa de descanso tanto quanto nosso corpo. Não é somente o descanso no sono, mas o descanso da meditação, o descanso da simples observação.

Quando viajamos, tiramos férias, conhecemos lugares novos, relaxamos não é, porque? Simplesmente porque ficamos mais observadores, não ficamos pensando em mil coisas, estamos em um ambiente diferente, temos muitas coisas legais para ver, para desfrutar, isso naturalmente nos coloca mais soltos, e menos mentais; ficamos mais receptivos e mais centrados, porque estamos menos nas análises e mais observadores, mais contemplativos.

O bem estar das novas descobertas, o perceber novos ambientes, experimentar novas coisas faz com que estejamos mais meditativos, mais no momento presente, e isso faz toda diferença.

A meditação é exatamente isso. Centrar-se, e simplesmente observar. Observar sem julgar, observar respirando e vendo os pensamentos, as sensações, e ver cada uma delas surgindo e partindo, como as nuvens no céu.

Quando nós criamos mais e mais espaço meditativo em nós, nós levamos essa paz, essa serenidade para tudo que fazemos também. Nosso trabalho, nossas relações vão cada uma delas ficando mais belas, mais calmas, mais soltas, e mais inteligentes também. Percebemos que é possível viver sem pressa, e sendo igualmente eficientes, mas sem o sofrimento do stress da mente agitada, tagarela, e pela mente estar relaxada, ela possui um brilhantismo, uma agilidade única, justamente por estar repousada.

Voltando a nossa pergunta original: Por que não consigo meditar?

Não é fácil mesmo, no início, porque a mente tomou conta e fala o tempo todo, e você ainda segue cada um dos pensamentos que passam. Mas se você insistir, verá que aos poucos você simplesmente passa a ser um observador de cada um deles, e eles já não tem mais nenhum poder sobre você. Lembre-se que é a sua energia ( consciência ) que alimenta a mente e os pensamentos, logo, se você não ficar alimentando cada um deles, eles simplesmente minguam e desaparecem.

E aí você descobre novamente, a dimensão pura original do observador, a dimensão que nós somos, a que nós nascemos. O olhar das criancinhas como dizia Jesus. O olhar puro, sem julgamento, sem nenhum conceito sobre a realidade. Ser simplesmente observação, tranquila, pura e simples, isto é meditar.

O sono é outra coisa que também pode acontecer se você está começando a praticar meditação. O cérebro a princípio confunde a mente difusa, não focada com sono. Muitos relatam que sentem sono, uma moleza no corpo e vontade de dormir quando começam a praticar a meditação. Isso é absolutamente normal. A observação não identificada precisa ser re-lembrada, pois ficou escondida sob uma montanha de pensamentos, lógica e racionalidade.
Osho diz que é o reconhecimento do quarto estágio da mente, ou Turya, que não é nem vigília, nem sono e nem sonho. Trata-se do estágio onde estamos absolutamente presentes, conscientes, não identificados em profundo estado de relaxamento.

A prática fará com que você possa permanecer todo o tempo em puro estado não identificado. Mente silenciosa inclusive quando fala, trabalha, e até quando pensa! O pensamento acontece na periferia da mente, mas o profundo permanece em absoluto silencio intocável.

Para aqueles que são muito estressados, com a mente que viaja a mil por hora, recomendo iniciar com as meditações ativas do Osho ( vejam aqui no blog em Meditações ), tente começar com a meditação Kundalini ou mesmo a Dinâmica. Elas foram criadas justamente pare serem praticadas por quem possui a mente muito ativa. Depois você pode passar para a meditação Nadabrahma, ou a Gurishankar ou outras e chegar ao Zazen que é simplesmente sentar e observar, pacíficamente, completamente.

Osho dizia que devemos experimentar todas. Também concordo com ele. Experimente diferentes tipos de meditação, e digo mais, inclusive a Yoga, o Tai Chi, as diferentes Artes Marciais podem ser usadas como meditações, na verdade tudo pode se transformar em meditação, tudo mesmo, basta que você esteja presente, em pura observação, sem julgar, e naturalmente você encontrará as que mais lhe agradam.
Tente e você conseguirá...estou certa disso...afinal, é um estado natural seu...meditação você já é...nenhum esforço é necessário, pelo contrário, abandone o esforço da mente, e volte a ser simples meditação...
Amor
Lilian
 

domingo, 10 de março de 2013

Nam Myoho Renge Kyo - Daimoku ((題目) - 南無妙法蓮華經

Nam myoho renge kyo Nam myoho renge kyo Nam myoho renge kyo Nam myoho renge kyo Nam myoho renge kyo Nam myoho renge kyo


Tanto a Lei como as pessoas são dignas de respeito.” (Nitiren Daishonin)


Nam myoho renge kyo Nam myoho renge kyo Nam myoho renge kyo Nam myoho renge kyo Nam myoho renge kyo Nam myoho renge kyo

Como se pratica o Budismo de Nitiren Daishonin?

A resposta é: recitando o Nam-myoho-rengue-kyo


A prática dos ensinos do Budismo de Nitiren Daishonin é a recitação do Gongyo e do Daimoku. Gongyo é a recitação de parte do 2º e do 16º capítulo do Sutra de Lótus; e Daimoku é a recitação de Nam-myoho-rengue-kyo.
Tudo se resume unicamente na fé. Ela contém a verdade, a coragem, a sabedoria e a boa sorte. Inclui também a benevolência e a humanidade, bem como a paz, a cultura e a felicidade.
Fé significa eterna esperança; é o segredo para um ilimitado autodesenvolvimento. A fé é o princípio fundamental para o crescimento. Há vários momentos em que se pode sentir o desejo de orar: por exemplo, para tirar uma nota boa numa prova ou para que faça tempo bom. Mesmo aqueles que não se consideram religiosos rezam por algo. Apenas o fato de desejarem boa saúde para seus filhos, ou de decidirem se desenvolver de alguma forma, também constitui uma oração, ainda que não queiram chamar isso de oração.
A oração no Budismo de Nitiren Daishonin – a recitação do Daimoku ao Gohonzon – coloca as nossas diversas orações em fusão com a realidade, tendo como base a Lei universal da vida.
Na verdade, o único meio de realmente despertar para essa maravilhosa prática é experimentá-la na própria vida. É impossível compreender a fé ou a vida somente por meio da teoria ou lógica. A vida não é algo abstrato. Deve ser vivida e sentida. É a história que construímos com nossos esforços e lutas em meio a nossa realidade.
O Gongyo e o Daimoku representam a cerimônia na qual nossas vidas entram em harmonia com o Universo. O Gongyo é uma atividade em que, por meio de nossa fé no Gohonzon, vigorosamente colocamos em fusão o microcosmo de nossa existência individual com a energia vital do macrocosmo, de todo o Universo. Se realizamos isso regularmente a cada manhã e noite, nossa energia vital – nossa máquina – é fortalecida.
O Universo é composto por um incalculável número de partículas elementares: prótons, elétrons, nêutrons, fótons; e também por átomos que compreendem os elementos químicos, tais como hidrogênio, oxigênio e cálcio. Essas mesmas partículas e elementos constituem nosso corpo. Um estudioso sugeriu que " o corpo humano é feito do mesmo material que das estrelas", e denominou os seres humanos de "filhos das estrelas". Nosso corpo não somente é feito da mesma composição do Universo como também é governado pelos mesmos princípios básicos de geração e desintegração e pelo ritmo de vida e morte que permeia o cosmos.
Quando fazemos o Gongyo e o Daimoku diante do Gohonzon, o microcosmo de nossa vida individual entra em fusão com o macrocosmo do Universo.
Alguém poderia perguntar por que a recitação do Daimoku e a leitura do Sutra trazem benefícios mesmo sem se compreender o significado dos caracteres.
Um bebê toma o leite da mãe e se beneficia com esse ato; no entanto, ele faz isso sem conhecer a composição do leite. O mesmo acontece quando recitamos o Gongyo e o Daimoku.
Naturalmente, será muito melhor se compreendermos o significado; porém, isso somente nos ajudará a fortalecer nossa convicção na Lei Mística. Contudo, se tal compreensão não for acompanhada da prática, então ela perderá definitivamente seu significado.
Exerça-se nos dois caminhos da prática e do estudo. Sem estes dois, não pode haver Budismo. Não somente o senhor deve se perseverar, mas também deve ensinar aos outros. Tanto a prática como o estudo surgem da fé. Deve contar aos outros com o melhor da sua habilidade, mesmo que seja somente a respeito de uma única sentença ou frase."
No Budismo de Nitiren Daishonin, o conceito de "prática" é definido pelo princípio de Jigyo keta, cujo significado literal é "prática individual e prática altruística". A prática individual (jigyo) corresponde à leitura diária do sutra (Gongyo da manhã e da noite) e da recitação do daimoku (Nam-myoho-rengue-kyo), com fé no Gohonzon, visando à felicidade pessoal. A prática altruística (keta) consiste em ensinar os outros os benefícios do Gohonzon e a grandiosidade da filosofia budista. Abrange, portanto, o chakubuku, a orientação, as palestras e quaisquer esforços para incentivar alguém a aprofundar sua fé no Gohonzon.
Qualquer filosofia sem a sua prática é uma idéia morta, e a prática sem filosofia não pode ser senão impulsiva e unilateral. O importante é reconciliar a filosofia com a prática, pois a grandeza de uma filosofia somente é reconhecível quando brilha pelo comportamento e experiência da pessoa.
Em nosso mundo da fé dedicado à realização do Kossen-rufu, todos os que continuam resolutamente a recitar o Daimoku serão os verdadeiros vitoriosos. Com toda certeza, haverão de desfrutar uma vida de "felicidade absoluta", ou seja, o Estado de Buda.
O fundamental é que, compreendendo este único ponto, suas vidas estarão seguras para toda a eternidade. Além do mais, não existe mais nada de especial além do fato de recitarmos Daimoku. É necessário nos tornarmos pessoas de bom senso, corretas e admiráveis dentro da sociedade.
De fato, praticamos a fé para nos tornarmos cidadãos exemplares, bons pais, bons maridos ou esposas e bons filhos. É um Budismo que possibilita a elevação do próprio estado de vida, permitindo-nos tornar alguém assim.
O Budismo existe para libertar as pessoas, não para restringi-las. O importante é se dedicarem, mesmo um pouco, todos os dias. O alimento que ingerimos diariamente transforma-se em energia para o nosso corpo. Nossos estudos, também, tornam-se um bem valioso quando dedicamos firmes esforços a isso dia após dia. Por essa razão, devemos viver cada dia de forma a nos desenvolvermos continuamente. e a força propulsora para realizarmos isso é o Gongyo.
Num certo sentido, não existe uma prática budista mais simples do que fazer o Gongyo e o Daimoku. não temos que praticar estranhas austeridades como em algumas tradições budistas esotéricas. Também no caso de um mecanismo, quanto mais sofisticada for a tecnologia, será mais fácil operá-lo. Da mesma forma, a superioridade do Budismo de Nitiren Daishonin nos capacita a extrair o estado de Buda por meio da prática mais simples.
O Nam-myoho-rengue-kyo incorpora o nome e a vida de Nitiren Daishonin. Aquele que recita o Daimoku consegue evidenciar o estado de vida do Buda Nitiren Daishonin dentro da sua própria. Certamente haverá de se atingir o Estado de Buda.
Não existem budas que ficam sofrendo eternamente na pobreza. Também não existem budas cruéis ou malvados, como não existem budas fracos que são derrotados na vida. Buda é um outro nome para uma pessoa que está determinada a vencer não importa o que aconteça.
Texto compilado de matérias de estudo do Bloco Mandala, da BSGI, Barra, RJ - 2008
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